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quinta-feira, 23 de setembro de 2021

ORTODOXIA POLICIALESCA


Das obras policiais e autores redescobertos nos últimos anos, talvez nenhuma me agrada mais do que ver Chesterton e seu trabalho ficcional de volta às livrarias com o devido tratamento que sua obra merece. A ausência de edições de seus livros no mercado brasileiro era uma triste lacuna - hoje suprida graças a participação de muitos e a hiperespecialização de conteúdo proporcionado pela Internet.


G.K. Chesterton foi um escritor completo. Autodidata, foi criador de tipos variados. Poeta, ensaísta, narrador, jornalista, crítico literário, filósofo, teólogo, biógrafo, desenhista, ativista político, apologista... (ufa!). Irônico porém educado, respeitava seus adversários com "o lado secreto da nobreza". Contemporâneo de escritores como Oscar Wilde, H.G. Wells, Conan Doyle, Agatha Christie, James Joyce, Thomas Hardy, W.B. Yeats, Virgínia Woolf e Rudyard Kipling, se distinguindo de todos os que o cercavam pelo seu jeito despojado, seu estilo incisivo e a facilidade de rir de si mesmo. Se tornou o "príncipe dos paradoxos", fraseando coisas que soam óbvias, mas de formas improváveis.


A obra de Chesterton teve impactos bastante profundos no último século, permeando autores de mais alto gabarito com o mais diferente grau de interesse. Robert E. Howard por exemplo tem seus poemas como epígrafes em narrativas de Solomon Kane (que terá nova edição pela editora Pipoca e Nanquim), Neil Gaiman em Sandman transformou sua aparência física em Fiddler's Green (uma área do Sonho com consciência própria), Jorge Luis Borges desenvolveu seu trabalho policialesco baseado no autor, a ponto de colocar seu nome em um dos seus mais importantes ensaios sobre o gênero policial: “Los laberintos policiales y Chesterton”, de 1935.


Por conta de sua vasta produção em não-ficção, por vezes sua ficção é deixada de lado. Em "A Taberna Ambulante", que em nossos tempos parece um rascunho das ideias desenvolvidas mais à frente por Michel Houellebecq em seu romance "Submissão"; já "O Poeta e os Lunáticos" temos um detetive pintor, que com a cabeça nas nuvens e focado na arte, resolve crimes assombrosos. Há duas notáveis exceções: "O Homem que foi Quinta-Feira" (uma narrativa policialesca com alegorias sobre o mundo real e moderno com referências ao universo ideológico e espiritual) que foi sua primeira grande experiência pela ficção, e as histórias de detetive do Padre Brown.


A primeira vista, Padre Brown é um inepto. Afinal, o que sabe um padre sobre o crime?




A ideia de transformar O'Connor em um dos seus melhores personagens surgiu em um dos seus encontros, no qual ocorreu um incidente irônico e marcante para a origem do Padre Brown: ambos, Chesterton e o sacerdote John O'Connor, estavam dialogando acerca de questões sociais como vícios e crimes, quando relatos referentes ao conhecimento de práticas de perversidades reportadas pelo religioso surpreenderam o escritor, pois aquele recente amigo, de aparência tranquila e agradável, apresentava mais experiências nas questões debatidas por eles do que Chesterton imaginara.

Em sua Autobiografia, Chesterton narra que, em uma conversa entre amigos sobre um artigo que escrevia sobre os problemas sociais que envolviam o vício e o crime, o padre John O'Connor (seu confessor e conversor) sugeriu que as conclusões dele estavam equivocadas. Para provar seu ponto, relatou práticas de perversidades que, ao serem reportadas pelo religioso, surpreenderam o escritor, pois aquele homem de batina, aparência tranquila e agradável, apresentava mais experiências nas questões debatidas por eles do que Chesterton poderia imaginar. Nascia ali a ideia de um padre-detetive.


A partir daquele momento, nasceu o personagem central dos mais de cinquenta contos distribuídos em cinco volumes e que inaugurou o que C.S. Lewis chamou de "thriller teológico". Diferente de Sherlock Holmes e um Hercule Poirot que sempre apresentaram uma certa forma de rigor racional e científico, Padre Brown foca em suas virtudes como diretor de almas para descobrir a verdade e chegar na alma do criminoso, buscando sua conversão - usando os anos no confessionário lhe deram para enxergar o que há de mais sórdido na natureza humana. Um exemplo disso é que Padre Brown sempre correu atrás da alma criminosa de Gustav Flambeau, famoso ladrão conhecido na Europa por roubar de forma ousada e espetaculosa objetos de grande valor, persuadindo para que abandone a vida no crime, mostrando para ele um outro caminho e tornando-o seu braço direito.


No capítulo "Uma Breve História do Romance Policial" presente no livro "Agatha Christie: From My Heart", Tito Prates salienta que um dos méritos de Chesterton é criar um personagem dentro de parâmetros definidos por Austin Freeman (criador da fórmula conhecida como "mistério invertido") e Mary Roberts Rinehart (responsável pelo desfecho "o culpado é o mordomo" e a pela fórmula "se eu soubesse"). Vale lembrar que a competência de Chesterton e sua escrita ficcional o fez se tornar membro e, posteriormente, o primeiro presidente do The Detection Club, uma associação inglesa informal de autores de histórias policiais da Grã-Bretanha que tinha em seu catálogo vários nomes célebres do romance policial britânico, nomeadamente, Agatha Christie, Dorothy L. Sayers, Anthony Berkeley, entre muitos outros.


Os mistérios do Padre Brown ao mesmo tempo que são bem feitos, muitos são quase perfeitos em termos de tempo, humor e raciocínio. Com ele vemos que não devemos confiar em tudo o que vemos e devemos prestar atenção em todos que nos cercam, que os polígrafos são infalíveis como as máquinas, mas falham miseravelmente na interpretação dos dados e principalmente nos mostra a noção de pecado.



Chesterton era um perfeito anatomista da alma, dissecando o humano até suas entranhas. Em um mundo repleto de mentiras e ilusões, ele nos lembra que o homem esqueceu o que é pecado e as questões das dimensões e escalas de seus erros. Nós realmente esquecemos o que é o bem?


Chesterton conseguiu em sua escrita policial conduzir um verdadeiro exercício espiritual, fazendo seu pequeno sacerdote mergulhar tão completamente no fundo do coração humano a ponto de influenciar tantos outros autores como Marshall McLuhan, Antônio Gramsci e Adolfo Bioy Casares. Não gosto de pensar na noção de perdão, mas Padre Brown me faz pensar nisso da maneira menos prosaica, como se fosse simplesmente uma questão de escolha ser honesto ou não. Ele me faz querer ser bom. Verdadeiramente. E eu acho que esse é o melhor tipo de efeito que um livro - nesse caso, uma coleção - pode ter.


Essa postagem foi patrocinada pelo Instituto Hugo de São Vítor. Para saber mais sobre os livros, clique aqui para acessar a livraria do instituo.

domingo, 26 de julho de 2020

RUBEM FONSECA E GARCIA-ROZA LADO A LADO - Bolívar Torres


As semelhanças e influências das obras dos dois maiores escritores de ficção policial do Brasil, mortos à distância de um dia


Parece até clichê de algum thriller barato. Na tarde do último dia 15, o Brasil mal havia iniciado o luto por Rubem Fonseca, vítima de um ataque cardíaco, e, menos de 24 horas depois, veio a notícia de que Luiz Alfredo Garcia-Roza não resistira à doença neurológica que o deixara internado nos últimos 12 meses. Os dois maiores nomes da literatura policial brasileira saíram de cena quase simultaneamente. Para aumentar o simbolismo da perda, Fonseca, de 94 anos, e Garcia-Roza, de 84, despediram-se em pleno centenário do primeiro romance do gênero no país — o sucesso editorial O mysterio, publicado em março de 1920 no extinto jornal carioca A folha. O baque veio em dobro. E, para os escritores policiais das novas gerações, a orfandade também. Afinal, quase todo mundo que começou a escrever suas tramas policiais no século XX se sentia um pouco filho ou neto da dupla, que continuava ativa e publicando.

Fonseca lançou seu último livro, Carne crua, no final de 2018. Já A última mulher, de Garcia-Roza chegou às livrarias em julho de 2019. Se não restam dúvidas de que a literatura policial no país se divide entre antes e depois deles, ficam as incertezas sobre o panorama sem sua presença. “Rubem Fonseca e Luiz Alfredo Garcia-Roza eram o Brasil para mim”, lamentou Victor Bonini, de 26 anos, autor de Quando ela desaparecer (2019) e considerado uma das grandes promessas na área. “Eles abriram uma porta para novas gerações. Eu, como jovem escritor, não tenho o menor intuito de superá-los. Pelo contrário, gosto de pensar que crio usando da mesma matéria-prima que eles usaram.”

Para entender o impacto causado pelos dois escritores, é preciso voltar a 1963, ano de lançamento de Os prisioneiros, primeiro livro de Rubem Fonseca. Os contos do estreante pegaram a crítica de surpresa, pela inovação formal e pelo ultrarrealismo que revelava, com crueza, um Brasil até então ausente na literatura nacional. Ex-comissário de polícia, Fonseca inventou uma nova ideia de literatura urbana, com seu Rio de Janeiro tentacular, labiríntico e brutal. E o uso dos códigos da ficção policial, ainda mais evidentes nos livros seguintes, como Feliz ano novo e O cobrador, foram essenciais para a construção desse universo.

Décadas mais tarde, o carioca Garcia-Roza atravessou a porta aberta pelo colega, embora num passo muito diferente. Em 1996, aos 60 anos, o filósofo e psicanalista interrompeu uma reputada carreira na universidade para se dedicar ao sonho da ficção. Sua estreia, com O silêncio da chuva, também foi um sucesso. Escritor tardio, usou seu amplo conhecimento da natureza humana para compor suas investigações, que se estenderam por 12 títulos.

Cada um representou o melhor do gênero a sua maneira, mas se apoiando no carisma de dois personagens recorrentes. Para Fonseca, foi o advogado Mandrake, um dublê de detetive especializado em extorsão e que não tem medo de frequentar o submundo carioca. Para Garcia-Roza, o delegado Espinosa, um raro agente da lei culto, ético e sofisticado, e que, à imagem de seu criador, mergulhava com gosto nos mistérios e contradições dos seres humanos. Para o escritor e roteirista Marçal Aquino, autor de livros como O invasor (2002), os personagens representam uma resposta nacional a figuras tradicionais do gênero no exterior, como o detetive Philip Marlowe. “Com eles, os dois grandes mestres deram uma contribuição decisiva para pulverizar uma tese que, durante muito tempo, atormentou nove entre dez escritores brasileiros: que não era possível, a não ser pela via do pastiche, recriar aqui no trópico a figura do detetive clássico, que se envolve em aventuras seriadas”, disse Aquino.

Além dos dois personagens marcantes, a dupla também teve um papel essencial para diminuir o preconceito contra o gênero, acredita Tailor Diniz, que escreve ficção policial desde o final dos anos 1990. “Lá pela década de 1980 era moda ler e comentar Rubem Fonseca”, disse. “As pessoas não se constrangiam com um livro policial dele na mão. Alguns resistentes até escamoteavam. Diziam que aquilo não era literatura do gênero. Depois de Feliz ano novo, todo mundo queria escrever como Fonseca. Aí a coisa foi meio trágica, mas mesmo assim foi um incentivo para a escrita e a leitura.” O mesmo ocorreu com Garcia-Roza, que começou em uma grande editora — a Companhia das Letras, que publicou todos os seus livros — e, logo de cara, ganhou um Jabuti. “Isso também ajudou muito”, complementou Diniz. “Ler um policial que ganhou o então maior prêmio literário do país não desmerecia o apuro intelectual.”

“Ambos se apoiaram no carisma de dois personagens recorrentes. Para Fonseca, o advogado Mandrake, um dublê de detetive especializado em extorsão. Para Garcia-Roza, o delegado Espinosa, um raro agente da lei culto, ético e sofisticado”

Professor de literatura na Universidade de São Paulo (USP), Jean Pierre Chauvin lembrou que um dos primeiros críticos a analisar de forma séria o gênero por aqui foi Álvaro Lins, em 1953 — mais de 30 anos após o surgimento na cena nacional. Sua visão, no entanto, era repleta de preconceitos e sinais negativos. Mesmo não sendo muito levada a sério pela crítica no início, a ficção policial já começou com sucesso. Depois de ser publicada em folhetim, O mysterio, primeira trama detetivesca do país, chegou a ter mais três reedições em livro. Mas seu teor era essencialmente cômico. Os autores, Coelho Netto, Afrânio Peixoto, Viriato Corrêa e Medeiros e Albuquerque, que se revezavam na autoria dos capítulos, criaram um pastiche carioca de Sherlock Holmes, o Sherlock da Cidade, mais conhecido por suas trapalhadas do que por seu talento investigativo.

Não por acaso, aliás, obras detetivescas foram por muito tempo destinadas ao público infantojuvenil. O sucesso de O escaravelho do Diabo, publicado de modo seriado na década de 1950, ou ainda dos livros da coleção Vaga-Lume escritos por Pedro Bandeira e José Louzeiro é emblemático nesse sentido. “É um pouco como se, na época, o gênero fosse destituído de interesse, ou qualidade suficiente, para o universo adulto”, observou Chauvin, que nos últimos anos percebeu um aumento de estudos relevantes sobre ficção policial e na quantidade de autores produzindo bons romances na área.


“Os melhores escritores brasileiros de ficção policial que conheço são os que liam a coleção Vaga-Lume quando crianças e, já adolescentes, se apaixonaram por Fonseca e Garcia-Roza”, disse Cláudia Lemes, fundadora da Associação Brasileira de Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror (Aberst). “Os autores que conseguem conciliar, sem preconceitos, essas influências com a nova cara da ficção policial são geralmente os mais lidos. No final, talvez não seja uma questão de se aproximar ou se afastar do legado deixado pelos mestres, e sim de conversar com ele enquanto criamos novas vozes.”

“O mysterio”, primeira trama detetivesca do país, escrita há 100 anos por vários autores, quando o gênero ainda era desacreditado na literatura nacional. Foto: Reprodução legenda

Autora de livros como A segunda morte de Suellen Rocha, Lemes é um dos principais nomes da cena independente, que cresceu muito graças ao bom uso das redes. “Como o gênero está forte na literatura, nos filmes e nas séries, o autor independente encontra um público receptivo”, disse a escritora. “Os blogueiros literários fazem o resto: criam eventos, divulgam, promovem e fazem um trabalho de formação de leitores e movimentação de vendas que poucas editoras e livrarias têm se comprometido a fazer.”

Trata-se de um movimento similar ao vivido pela literatura fantástica dez anos atrás, acredita o escritor e editor Cesar Alcázar, idealizador do selo Safra Vermelha, criado para retomar a tradição das coleções policiais. O sucesso de Cláudia Lemes e de outros expoentes, como Ana Paula Maia e Raphael Montes, despertou a atenção das editoras e feiras para novos nomes.

Desde o ano passado, o país também ganhou seu primeiro evento dedicado exclusivamente à ficção de crime, o Porto Alegre Noir. “Há muito ainda que ser explorado no gênero, tanto em temática quanto em ambientação”, avaliou Alcázar. “Temos uma riqueza de vozes, personagens e histórias que fica mais evidente a cada dia. Apesar das perdas inestimáveis de Fonseca e Garcia-Roza, tudo indica que essa literatura está se fortalecendo cada vez mais e tem um belo futuro pela frente.”

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Embaixador brasileiro de Agatha Christie, Tito Prates lança livro em pré-venda


Uma série de mortes, até então desconectadas, começa a assombrar os moradores de São Paulo. Em todas elas o assassino deixa sua marca: a unha do dedinho do pé pintada de rosa. O delegado Meireles e sua equipe de investigadores se empenham em desvendar o mistério por trás dessas mortes horrendas e descobrem que lidam com um serial-killer copycat e que a resposta à pergunta “quem será a próxima vítima?” pode estar no Museu do Crime!

Essa é a premissa do mais novo livro de Tito Prates. O dentista e administrador de empresas é conhecido por ter uma paixão literária tão forte que o torna incomum. Aficionado por Agatha Christie, é um dos dois embaixadores dela no mundo, inclusive, sendo biógrafo brasileiro da autora britânica - vide Agatha Christie: From My Heart — Uma Biografia de Verdades (Tito Prates).

Originalmente uma publicação independente, agora está em formato físico pela editora Monomito. Escrito para estômagos fortes, crimes que ocupam o imaginário coletivo nacional desfilam em tons sangrentos. O bandido da luz vermelha, o crime da mala e o caso Von Richthofen fazem parte de seu estandarte.

BOX: Livro Museu do Crime com frete incluso + 4 fotos da série Poirot e a foto exclusiva para este kit Poirot e Hastings no Egito, todas tamanho 20X25 licenciadas + marcador de páginas personalizado e marcador Poirot + postal Witness for the Prosecution + bloquinho e mochila ecobag personalizadas do livro e nome nos agradecimentos
A quem diga que ele deixa o bigode crescer entre julho e setembro (período em que se comemora o aniversário da autora) no formato de um gancho, uma das marcas principais do detetive Hercule Poirot. Viciado em crimes, Tito também faz seleções de antologias, como para a Constelação e mais recentemente para a Luva Editora.

Seu mais novo livro, Museu do Crime, está em pré-venda pelo Catarse"Quando a gente é pequeno todas as conquistas têm que ser comemoradas. Uma das que a Monomito pode estourar uma champanhe é a conquista da confiança do Tito Prates." diz Adriana Chaves, editora na empresa Monomito Editorial.

A campanha vai até o dia pode apoiar este projeto até o dia 10 do mês que vem. Link aqui.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Morte no Nilo | Agatha Christie

Morte no Nilo foi escrito após uma temporada de inverno no Egito. Quando releio o livro, é como se retornasse ao navio a vapor que me levou de Assuan a Wâdi Halfa. Havia um bom número de passageiros a bordo, mas os personagem do livro viajaram em minha mente, tornando-se mais reais a cada dia, no cenário de um vapor do Nilo. O livro tem muitos personagens, e um lote muito bem-elaborado deles. A trama central me parece intrigante e com boas possibilidades dramáticas, e os três personagens — Simon, Linnet e Jacqueline — parecem vivos e realistas. - Agatha Christie

Próxima adaptação de Agatha Christie para o cinema e que será estrelada por Gal GadotMorte no Nilo é um livro de 1937 e que podemos notar o caráter cronista da autora. As paisagens, os costumes, as relações interpessoais estão presentes ao longo das 248 páginas.

Introduzindo um grande elenco de personagens logo no primeiro capitulo, relacionados através de suas próprias cenas "dialogadas". Agatha prende seus personagens em um navio a vapor, o Karnak, assim limitando o número de suspeitos. Isso não é uma tarefa fácil, especialmente quando o elenco está em uma trama de detetive.

O detetive Hercule Poirot está de férias no Egito quando é atraído para o misterioso caso do casal recém-casado: Linnet e Simon Doyle. Ela, uma das moças mais ricas de Londres, casou-se com ele, o noivo de sua melhor amiga, Jacqueline de Bellefort. Como método de vingança por roubar seu homem, Jacqueline segue os Doyles onde quer que eles vão, e quando Linnet e Simon chegam ao destino de lua de mel no Egito, Jacqueline está esperando por eles. Ela os segue até o rio até o Nilo, justamente quando os Doyles acreditavam que ela havia parado.

Uma noite a bordo, Jackie atira na perna de Simon Doyle enquanto Linnet Doyle é baleada na cabeça enquanto dorme. Todos os dedos apontam para Jackie, mas ela tem o álibi perfeito. Hercule Poirot assume o caso com seu amigo e colega investigador que veio a bordo do navio, Coronel Race.

À medida que os personagens embarcam em sua jornada, nós os conhecemos, e o relacionamento deles um com o outro, com mais detalhes. E cada detalhe se baseia em uma trama criminosa perfeitamente tecida - onde qualquer um dos personagens pode acabar sendo o culpado. Quanto mais o caos se instala, junto com evidências confusas e assassinatos, Poirot fica em um beco sem saída, buscando quem é o cérebro por trás de tudo.

domingo, 7 de maio de 2017

"Quero conseguir escrever histórias que falam de nós, das pessoas" - Entrevista com Gustavo Ávila


Gustavo Ávila não poderia estar mais feliz. Com o livro sendo publicado pela Verus Editora, com os direitos da obra vendidos para a Globo Filmes, ele comenta: Não há nada de mal em tentarmos entender o mundo, o problema é a obsessãoEle fala para o Golem sobre literatura, educação e trabalhos em desenvolvimento.

Como você desenvolveu a terrível cena de tortura na abertura do livro?
A ideia do estudo proposto por David (o assassino) é feito em cima de uma família com os pais e um filho ou filha, então, essa cena teria que envolver essas três pessoas. O desenvolvimento dela foi feito em cima de algo que é revelado mais pra frente, por isso não posso falar muito aqui já que isso revelaria um spoiler sobre a história (risos). Mas a forma de contar essa cena, eu tentei escrever de uma maneira que fosse possível sentir as coisas que acontecem lá, como se tudo aquilo estivesse acontecendo ali, bem na frente do leitor. O objetivo é fazer o próprio leitor sentir a dor daqueles personagens, física e psicológica. Colocar quem está lendo no lugar da criança que está assistindo seus pais sendo mortos, justamente para que, mais pra frente, o leitor também consiga se colocar no lugar de quem está fazendo determinadas escolhas. Porque é muito fácil julgar algo que não aconteceu com a gente. Mas quando você sente a dor do outro, sua percepção sobre aqueles fatos mudam. Você muda. E quando isso acontece você vê que não é tão simples classificar alguém como uma pessoa boa ou uma pessoa má. Há muita coisa envolvida nisso.

É possível justificar um ato de crueldade quando, por trás dele, há a intenção de fazer o bem?
Essa é a grande pergunta do livro. Essa questão guia toda a história. Sinceramente, eu não tenho uma resposta pra ela. Por isso eu deixo para que cada leitor, depois de conhecer tudo o que acontece, responda para si mesmo. E está sendo muito bacana conversar com os leitores sobre essa questão, porque, realmente, tenho visto que muitos acham que sim, muitos outros acham que não, alguns ficam em cima do muro, no talvez, no cada caso é um caso. Acredito que essa pergunta seja o que há de melhor do livro. A pergunta que fica martelando depois do ponto final.


A esquerda a capa antiga. A sombra negra, a fonte e o comentário de Raphael Montes fazem parte da nova capa, a esquerda

O Sorriso da Hiena traz questões morais que parecem cada vez mais atormentar o homem, como se vale a pena o avanço científico às custas do sofrimento alheio. Você acha que o ser humano vai ser empurrado pela ciência para um abismo moral?
Não acho que é a ciência que empurra o ser humano para o abismo, quem faz isso é o próprio ser humano. A ciência é apenas uma ferramenta. Uma forma de realizar conquistas, de tentar domar questões que não estão e talvez nem deveriam mesmo estar sob o nosso controle. O ser humano é movido por obsessões. Uma delas é a de tentar entender tudo, desvendar tudo. O ser humano não pode ver um mistério. E algumas coisas não foram feitas para serem desvendadas. Alguns mistérios deveriam permanecer assim. Mas queremos respostas para tudo. Não há nada de mal em tentarmos entender o mundo, o problema é a obsessão. Toda ganância é ruim. Inclusive a ganância por respostas.

Seu estilo de escrita apela muito para o visual - sem se alongar muito comparado com outros autores - eu até comentei em uma resenha que queria ver O Sorriso da Hiena nas telonas. Recentemente você vendeu os direitos da obra para a Globo. Há alguma previsão para o início das gravações?
Então, na verdade eu não sei muito sobre isso. Agora o projeto está com eles. O que sei é que eles tem dois anos para decidir se vão fazer alguma coisa ou não. Caso não resolvam nada, os direitos do livro voltam pra mim. Também não sei qual é a ideia deles, até porque, acho que nem eles sabem exatamente o que fazer ainda. Esse tipo de projeto é demorado, são muitas etapas. E na verdade, agora nem penso muito nisso. Já não está em minhas mãos, então meu foco agora é escrever as outras histórias e deixar essa questão rolando.

O seu conto Pá de Cal está na Amazon, disponível para download, ele tem um Q de Jogos Vorazes mas trata-se muito da busca da felicidade, da busca do conhecimento de si mesmo. Você vai continuar escrevendo nessa pegada distópica?
Eu não penso muito em gêneros. Nunca pensei em ser um autor de romance policial. O que aconteceu foi que a história d’O sorriso da hiena pediu uma trama policial. A história de Pá de Cal pediu essa pegada mais futurística e distópica. Então eu me deixo levar pelo o que a história pede. O segundo livro também será um policial. Já o terceiro fugirá um pouco, será uma pegada mais de “jornada de um homem em busca de algo”, uma jornada literalmente. Ele se passará na África e no Brasil. Então não me prendo na questão de gênero. O que a história pedir é a que vou escrever.


Tirado do site Conjunto da Obra
Em meio a tantas reformas educacionais nesse momento do país, como a educação e os seus professores te levaram ao ponto que você está hoje?
Gosto sempre de dizer que foi um professor que me colocou no caminho da escrita. Eu estudei publicidade e propaganda e tinha um professor (um salve pra você, professor Zé Luiz!) que também era dono de uma agência. Quando eu estudava eu pensava em ir para o lado da direção de arte. Para quem não sabe como funciona o trabalho de criação dentro de uma agência, resumidamente existem duas funções: direção de arte, que mexe mais com a parte gráfica, e redação, que trabalha mais os textos. Isso, falando bem superficialmente. Quando fiz a entrevista na agência desse professor ele disse que me contrataria, mas não como diretor de arte, como eu queria, e sim como redator, porque ele achava que tinha mais a minha cara. E ele realmente estava certo. Por isso que eu sempre digo que foi um professor que viu em mim aquilo que eu ainda não tinha visto. Pena que eles, os professores, são tão desvalorizados no nosso país. Eles são diretamente responsáveis pelos caminhos que seguimos e muitas vezes conseguem ver em nós aquilo que nem mesmo a gente enxerga ainda. Precisamos valorizar mais esses profissionais, essas pessoas. São elas que nos formam e ajudam a moldar nossos pensamentos com sua experiência e conhecimento.


Robert Louis Stevenson e Mia Couto
Quais autores te influenciaram e se você tem alguma dica para autores iniciantes.
Eu não tenho o costume de ler muitas obras do mesmo autor. Eu vou lendo de forma mais aleatória que seguindo algum autor específico. Mas, atualmente, um que tenho lido bastante é Mia Couto. Gosto muito das histórias dele, da forma sensível como ele escreve. Como ele é de Moçambique, ele costuma trabalhar muito da cultura africana em seus livros, o que eu gosto demais. Mas a forma como ele escreve é totalmente diferente da minha. Acredito que ele me influência em tentar tocar o leitor de uma forma mais humana. E um autor, de uma obra específica, que tem total influência no que eu pretendo (e espero alcançar) nas minhas histórias, é Robert Louis Stevenson, que escreveu O médico e o monstro. Essa é uma obra que vai permanecer atual pra sempre, porque ela vai no ponto do que é o ser humano, e isso nunca vai mudar, essa nossa divisão sem balanço do bem e do mal. Essa obra nunca vai morrer e ela fala com todos e sobre todos. E eu quero isso pra mim. Quero conseguir escrever histórias que falam de nós, das pessoas, do que temos dentro da gente, do que nos toca, do que nos transforma.

Para saber mais sobre o autor e o livro:
Um regresso moral - O sorriso da hiena (Gustavo Ávila) [CONTÉM SPOILER!]
Notícias do mundo policial: Gustavo Ávila, Raphael Montes e Victor Bonini
Notícias: Mundos Paralelos, William Hope e capa nova de O sorriso da hiena
O sorriso da hiena está em pré-venda na Amazon, Saraiva e Livraria Cultura

sexta-feira, 24 de março de 2017

Segredos e conspirações - Morte Lenta (Matthews FitzSimmons)



A Faro Editorial tem sempre trago livros interessantes para o mercado - principalmente sobre thrillers policiais e políticos. Na narrativa, Suzanne, a filha do então senador Benjamin Lombard, agora poderoso vice-presidente dos EUA está desaparecida a dez anos sem deixar qualquer vestígio - um caso sem solução, uma obsessão, principalmente para Gibson Vaughn.

Vaughn é um ex-fuzileiro renomado e hacker e o melhor amigo Suzanne, tendo-a como uma irmã. No décimo aniversário do desaparecimento da garota, Abe, ex-chefe de segurança Lombard contacta Gibson para realizar uma investigação secreta sobre a desaparecida e entrega a ele novas pistas.

Assombrado por um passado trágico, Gibson agora tenta descobrir o que realmente aconteceu. Em suas pesquisas descobre uma perigosa rede de segredos e conspirações em torno de Benjamin Lombard e sua família, onde se equilibra entre a busca da verdade e em se manter vivo.


segunda-feira, 13 de março de 2017

Roteirizando pelas estrada dos anões - Dias Perfeitos (Raphael Montes) [SPOILER]


Um livro que virou best-seller internacional, Dias Perfeitos de Raphael Montes foi levado aos palcos dirigido pelo César Baptista e estreou no Rio de Janeiro nessa sexta (10).  O espetáculo fica em cartaz de sexta a domingo, no teatro Cândido Mendes, Ipanema, até o final de abril.

Escritor carioca, foi finalista dos prêmios São Paulo, em 2013, e Machado de Assis, em 2012, com seu primeiro romance, Suicidas (Benvirá) sua primeira obra adaptada para o teatro em 2015. Dias Perfeitos (2014) foi o seu segundo romance, lançado pela Companhia das Letras. Traduzido em de 14 países, incluindo Estados Unidos, Inglaterra, Espanha, Holanda, Itália e França a edição veio com um elogio do escritor americano Scott Turow na capa. A ideia nasceu a pedido da mãe que queria uma história romântica - e ganhou uma história de amor (um amor obsessivo).


O livro nos apresenta um protagonista Téo, um psicopata apaixonado por Clarice, uma jovem sonhadora que quer se tornar roteirista de cinema. Obcecado, ele desfere um golpe na cabeça de Clarice (que está escrevendo um filme de nome "Dias perfeitos") e parte com ela em viagem pelo Rio de Janeiro - a mesma viagem feita pelas personagens do roteiro de Clarice.

O final é interessante, nos dando duas possibilidades para um final que terminou em aberto: Clarice contrai Síndrome de Estocolmo e se apaixona por Téo (a ponto de casar com ele) ou ela tem a memória apagada e fala coisas (e deseja coisas) aleatoriamente, ou ela lembra de algumas coisas.



terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

A ajuda que chegou tarde - A Garota do Lago [Summit Lake] - Charlie Donlea




A NOITE DE INVERNO CAIU NO EXATO MOMENTO EM QUE Becca Eckersley deixou o café. Caminhando pelas ruas escuras de Summit Lake, ela enrolou o cachecol em torno do pescoço para se proteger do frio. Sentia-se bem depois de finalmente ter falado com alguém, pois tornou aquilo real. A revelação do seu segredo de longa data aliviou a pressão, permitindo-lhe relaxar um pouco. Enfim, Becca acreditou que tudo daria certo. - Charlie Donlea
O novo lançamento da Faro Editorial desse mês trás o primeiro romance de Charlie Donlea em foco. A Garota do Lago trás a narrativa acompanha Kelsey Castle em sua recuperação de uma experiência traumática investigando a morte brutal de Becca Eckersley um crime abafado de todas as formas na pequena cidade de Summit Lake.



Com capítulos entrecortados entre o passado e o presente e com ponto de vista de personagens diferentes, o thriller avança a passos largos em suas quase 300 páginas em um desfecho incrivelmente chocante e inusitado.



Cada página que viramos nos vemos mais próximo de um resultado intrigante na narrativa: o encontro mental de situações e o que levou a tudo isso virar uma questão pessoal para a jornalista - quando os vivos resolvem caminhar nas mesmas pegadas que os mortos.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Chesterton: príncipe do paradoxo, pai do fantástico

O primeiro Especial de Natal feito pelo blog faz uma homenagem ao mundo ficcional em si. O homem que influenciou Tolkien, Howard e Lewis e a criação de Hiboria, Terra Média e Nárnia merecia uma breve e singela homenagem.

Nascido em Londres no ano de 1874, G.K. Chesterton foi um dos intelectuais mais influentes do último século. Anglicano, se converteu ao catolicismo como John Henry Newman e Henry Edward Manning: através do movimento anglo-católico.

Autodidata, foi criador de tipos variados. Poeta, ensaísta, narrador, jornalista, crítico literário, filósofo, teólogo, biógrafo, desenhista, ativista político, apologista... (ufa!) travou debates acalorados com os ateus mais notáveis do século (Bernard Shaw, Robert Blatchford, Bertrand Russell e Clarence Darrow). Irônico porém educado, respeitava seus adversários com "o lado secreto da nobreza".

Herdeiro da Era Vitoriana e uma sociedade pós-cristã, profetizou os grandes conflitos que levariam à segunda Guerra Mundial. Contemporâneo de escritores como Oscar Wilde, H.G. Wells, Conan Doyle, Agatha Christie, James Joyce, Thomas Hardy, W.B. Yeats, Virgínia Woolf e Rudyard Kipling se distinguiu de todos os que o cercavam pelo seu jeito despojado, seu estilo incisivo e a facilidade de rir de si mesmo. Se tornou o "príncipe dos paradoxos", fraseando coisas que soam óbvias, mas de formas improváveis.

Com a fama literária, veio o convite para palestras e conferências - dentro e fora da Inglaterra e a aquisição de novos e importantes amigos: Joseph Conrad, Henry James, Winston Churchill e Thomas Hardy (para citar apenas alguns).

Em 1910 seu livro O que há de errado com o mundo é mal recebido pela crítica mais por culpa dos editores que trocaram o título original O que há de errado? expandindo para O que há de errado com o mundo e omitiram seu ponto de interrogação. Quando Chesterton escreveu o livro, ele ainda não tinha certeza sobre o que havia de errado com o mundo, mas ele estava bastante seguro em relação ao que havia de certo com ele. Nele apresenta seus pensamentos e teorias sobre propriedade privada, educação, família, apontando criticas ao sistema capitalista e o comunista e propondo o distributivismo mas foi somente em 1927 que Chesterton elaborou os detalhes de sua filosofia social no livro intitulado Um esboço de sanidade. Já convertido ao catolicismo, descobriu que seus princípios sociológicos já haviam sido endossados muitos anos antes na encíclica Rerum Novarum do papa Leão XIII, escrita em 1897. Defendida pelos pensadores católicos, o distributivismo é uma teoria que segundo a qual a propriedade privada é um bem a que deve ter acesso senão a totalidade ao menos a maioria dos agentes sociais. O que há de errado no mundo defende que, mesmo sendo fácil achar consenso na identificação e crítica dos erros que encontramos na sociedade, a essência está em concordar que solução adequada propor. Mesmo sendo uma obra de não-ficção, Chesterton nos apresenta dois personagens: Hudge e Gudge. Bom na verdade três: ele também apresenta Jones. Hudge e Gudge são os inimigos de Jones. Resumindo, Hudge é o Grande Governo e Gudge o Grande Negócio. E Jones? Jones é o homem comum.

Esse homem, Jones, sempre desejou coisas ordinárias; ele se casou por amor, escolheu ou construiu uma pequena casa que lhe serviu como um casaco; ele está pronto para ser um grande avô e herói local

Mas algo saiu errado. Hudge e Gudge têm conspirado contra Jones para tomar dele sua propriedade, sua independência... e dignidade.

Também ficou famoso por suas biografias. O querubim gigantesco (apelido dado a ele por Shaw) escreve a biografia do poeta Robert Browning (1903) que lhe rende o convite para assumir a cátedra de literatura da então recém-criada Universidade de Birmingham, Leo Tolstoy(1903) com Edward Garnett e George Herbert Perris, e Charles Dickens (1906) arrancando elogios da filha do biografado, de André Maurois e T. S. Eliot que dizem ser um dos melhores estudos sobre o romancista inglês, São Francisco de Assis (1923), Robert Louis Stevenson (1927) e Chaucer (1932) mas foi com São Tomás de Aquino (1933), cujo valor foi atestado por Étienne Gilson, famoso filósofo tomista, que a considerou o melhor livro jamais escrito sobre São Tomás:

Considero, sem comparação alguma, que é o melhor livro jamais escrito sobre Santo Tomás. Só um gênio podia fazer algo assim. Todo o mundo admitirá, sem nenhuma dúvida, que se trata de um livro inteligente; mas os poucos leitores que tiverem passado vinte ou trinta anos estudando Santo Tomás de Aquino e publicado dois ou três volumes sobre o tema terão de reconhecer que a chispa de gênio de Chesterton lhes deixou ao rés do chão a erudição. Tudo o que eles tentavam expressar desajeitadamente em fórmulas acadêmicas foi expressado por Chesterton.

Para entender essa declaração, Gilson tinha escrito mais de três livros sobre o tema, sendo na época o maior e mais reconhecido especialista em São Tomás e Idade Média do Mundo. A obra ainda foi tomada pelo Pe. Gillet, Mestre-Geral da Ordem dos Dominicanos (ordem monástica de São Tomás) como bibliografia básica sobre o grande santo dominicano e suas ideias.

INFLUENCIADOS

Foi em um dos capítulos de seus livros mais famosos, Ortodoxia (1908), que deu claramente a base para Tolkien criar a Vila dos Hobbits (mais especificadamente A Ética da Terra dos Elfos). Misturando mitologia nórdica com os valores cristãos, onde a menor e mais humilde criatura se ergue para enfrentar perigos jamais imaginados, Tolkien criou um Novo Mundo baseado no Mundo Antigo.


O Moinho da Vila dos Hobbits, por J. R. R. Tolkien (tirado do site Tolkien Brasil)

Sendo escrito como resposta a uma provocação de G.S. Street, Ortodoxia é a continuação individual de Hereges, obra que faz críticas a muitos de seu ciclo de convivência, apontando para cada escritor seus vícios. Oscar Wilde por seu esteticismo aético, H.G. Wells por seu historicismo naturalista, Bernard Shaw por um socialismo desumanizador, George Moore pelo subjetivismo ético e Rudyard Kipling pelo seu pensamento discriminatório e imperialista.



Capa do livro de Chesterton, Hereges, feita para Ecclesiae.

Se afastando da imprensa depois da morte do pai, dedicou os anos de 1923 e 1924 para redigir com tranquilidade O Homem Eterno (1925), em que expunha a sua filosofia da História, tendo como eixo o mistério de Deus encarnado - uma clara resposta ao livro História Universal de H. G. Wells, se colocando contra a visão cética, naturalista e evolucionista do amigo. Esse livro foi crucial para a conversão de Lewis, que acabou por se tornar também um dos apologistas cristãos mais importantes do século passado.


Ilustração: Dave Stevenson. Foto: Norman Parkinson/Corbis

Sua influência sobre Robert E. Howard é salientada logo na introdução do livro O Mundo Sombrio por S. T. Joshi e reforçada na biografia de Robert E. Howard por Rusty Burke. Com um conceito de que passasse as eras e o que fica é a moral, ele abriu a porta para a criação da Era Hiboriana, onde Conan foi mostrado com muitas facetas. Nela, Conan foi rei, ladrão, marinheiro, mercenário e outras profissões marginais que dependiam exclusivamente de inteligência e de força física.



Adaptação do conto A torre do elefante de R.E.H por Roy Thomas e arte de John Buscema a Alfredo Alcala

Se sua obra contribuiu para a criação de universos tão vastos, foi em um jornal familiar, o G.K.’s Weekly, fundado em 1926 junto com seu irmão Cecil, que o escritor abriu as portas para George Orwel, que em 1928 publicou seu primeiro artigo. Há especulações que um de seus romances mais famosos, 1984, seria uma resposta ao Napoleão de Notting Hill (1904) - obra preferida de Neil Gaiman, que homenageou o autor transformando no personagem de Sandman, Fiddler's Green.

Edição do jornal G.K.’s Weekly da família Chesterton
Em A Esfera e a Cruz, espécie de romance simbólico e apocalíptico, reaparece o personagem obsessivo de Chesterton, em luta implacável, mas por fim, cordialíssima, com o ateísmo desvairado da época, serve de base para Kafka e seu livro O Processo. Sobre o Chesterton, Kafka afirma: Ele é tão feliz que posso facilmente acreditar que encontrou Deus.

Uma das crenças de Chesterton era que os contos de fada eram a forma mais moralizante de se educar uma pessoa. Com eles, se pode enfrentar a realidade, mesmo que a mais dura, de uma forma não conformada mais otimista.

Toda a felicidade do país das fadas está por um fio, um único fio. Cinderela pode ter um vestido tecido em teares sobrenaturais e reluzente com um brilho que não é deste mundo; mas deve estar de volta quando o relógio bater as doze horas. O rei pode convidar fadas para o batizado, mas deve convidar todas, ou haverá conseqüências terríveis. A esposa de Barba Azul pode abrir todas as portas menos uma. Quebra-se uma promessa feita a um gato, e o mundo todo desmorona. Quebra-se uma promessa a um anão amarelo, e o mundo todo desmorona. Uma garota pode ser a esposa do Deus do Amor em pessoa se nunca tentar vê-lo; ela o vê, e ele desaparece. Uma garota recebe uma caixa com a condição de não a abrir; abre-a, e todos os males do mundo escapam para cima dela. Um homem e uma mulher são colocados em um jardim com a condição de não comerem uma fruta; comem-na, e perdem a alegria em todas as frutas da terra. - G. K. Chesterton, do livro Considerando todas as coisas (1908)
Dono de uma pena arguta, sutil e envolvente, Gilbert Keith Chesterton deixou marcas inesquecíveis em mestres da literatura como Hemingway, Borges, García Márquez e T. S. Eliot. Como se não bastasse, seus textos influenciaram decisivamente líderes de movimentos de libertação como Michael Collins (Irlanda), Mahatma Gandhi (Índia) e Martin Luther King (Estados Unidos).

Morreu em sua casa na cidade de Beaconsfield, em Buckinghamshire, Inglaterra, aos 62 anos, no dia 14 de Junho de 1936. Recebeu a extrema-unção de seu amigo Padre O’Connor (que o inspirou a criar um dos maiores detetives da época, o Padre Brown). O Papa Pio XI - que já tinha citado em suas homilias os livros de Chesterton - em telegrama ao povo da Inglaterra, escreveu: Santo Padre profundamente consternado morte de Gilbert Keith Chesterton, devoto filho Santa Igreja, dotado defensor da Fé Católica.


NOTA:
Certa vez o jornal London Times pediu a alguns escritores que respondessem à pergunta: "O que há de errado com o mundo?".

Chesterton enviou a resposta mais sucinta:

Prezados Senhores:
Eu.
Atenciosamente, G. K. Chesterton


BIBLIOGRAFIA

Maravilhoso Mundo Louco

Sociedade Chesterton Brasil

Feedback Magazine

Sociedade Chesterton Portugal

Divina Dádiva

Revista Filosofia

Contos de fadas e outros ensaios literários - G. K. Chesterton - Livraria Resistência Cultural Editora.




segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Criadora de enredos envolventes, Agatha Christie completaria nesse mês 126 anos


Agatha Christie, uma das maiores escritoras do século passado completaria 126 anos se estivesse viva.

Nascida em Devonshire, era filha de um norte-americano e uma inglesa, foi educada dentro das tradições britânicas da Era Vitoriana. Começou a se interessar pela escrita graças ao incentivo da mãe, que a apresentou obras de Edgar Allan Poe e Arthur Conan Doyle.

Totalmente soberana nos romances policiais, a Rainha do Crime teve seus livros vendidos em todo o mundo e traduzido para mais de quarenta línguas diferentes. Com mais de oitenta livros publicados, suas obras foram levadas para todas as linguagens possíveis, inclusive teatro e cinema.

Uma curiosidade que vem a calhar: Agatha foi a única dramaturga a ter três peças encenadas simultaneamente no West End, a “Broadway de Londres”.

Também nesse ano se comemora o centenário do primeiro livro que escreveu: O misterioso caso de Styles. Ela já tinha se aventurado pela literatura, mas esse foi seu primeiro livro policial, com o um dos detetives mais marcantes da literatura: Hercule Poirot.

O serviço de Correios britânico anunciou também a criação de selos baseados na obra da escritora. São cenas de seus clássicos Assassinato no Expresso Oriente, O Misterioso caso de Styles, E não sobrou nenhum, Um corpo na biblioteca, O assassinato de Roger Ackroyd e Convite para um homicídio.


terça-feira, 12 de julho de 2016

Um regresso moral - O sorriso da hiena (Gustavo Ávila) [CONTÉM SPOILER!]

A lágrima contornou a maçã do rosto serpenteando a bochecha que tremia com a respiração ofegante da criança, deixando atrás da gota um rastro úmido que desenhava seu caminho na pele jovem. Perdeu velocidade ao lado de uma fita adesiva cinza que tapava a boca, e como a ampola de uma seringa, encheu-se instantaneamente de uma tonalidade rosa, até pingar vermelha e explodir no chão feito uma lágrima santa. - Gustavo Ávila

O leitor queira me desculpar (e o autor do livro também) pela lentidão de postar a opinião de um dos melhores livros que li nesse último ano. Impactante e de uma criatividade sem igual, ''O sorriso da hiena'' não é um dos livros que você, leitor de livros policiais deve deixar na estante, mas sim na cabeceira.

Para explicar como David virou um psicopata, Gustavo Ávila não é sútil. Não é só David testemunhar o assassinato dos pais, ele precisa lembrar dos requintes de crueldade e do rosto do assassino, de suas roupas, de sua ironia. Afinal de contas, ''Ninguém gosta de linguarudos''.

Inteligente, sagaz, ele nos propõe a seguinte dúvida: ''É possível justificar um ato de crueldade quando, por trás dele, há a intenção de fazer o bem?''. Algo bem presente nos dias atuais, o limite da moral (algo que tratei nos posts do Lovecraft e da Mary Shelley) se tornou relativo. 

Créditos na imagem
Para um bem maior, sacrifícios tem que ser cometidos. Não é uma das falas do livro, mas ao meu ver, caberia muito bem na boca de William, um psicólogo infantil que criou uma tese sobre o desenvolvimento do caráter humano passava por traumas infantis. Ele aceita o jogo de David, que repete o que assassinato de seus pais com diferentes casais e com diferentes crianças para diversificar o estudo do psicólogo, buscando no final das contas, o que aconteceu com ele.


Os crimes começam a ser investigados por Arthur, um sagaz detetive que tem a Síndrome de Asperger, um distúrbio que afeta a capacidade do indivíduo de socializar-se e comunicar-se de maneira efetiva. Ele persegue David, porém é sempre despistado, não conseguindo pistas o suficiente para incriminar o serial killer.


''Um envelope que irei guardar com muito carinho: o contrato assinado com a Verus Editora, do Grupo Editorial Record.'' diz Gustavo em uma rede social.

Enquanto isso, fazendo um pacto com o próprio diabo, William vê sua vida pessoas ser destruída: causa a morte do melhor amigo, separa-se de sua noiva, fica envelhecido pelo remorso.

Com um final impressionante, o que era um publieditorial de 304 páginas passa para um contrato assinado com a Verus Editora, do Grupo Editorial Record, esse é um daqueles livros que já estão prontos para virar filme.

E eu estou ansiosamente esperando:





segunda-feira, 25 de abril de 2016

Do pesadelo a paranóia: Victor Bonini - Colega de Quarto

Lançado pela Faro Editorial, o primeiro livro escrito por Victor Bonini, Colega de Quarto conta a como a vida do jovem Eric Schatz, rico, solteiro e paranoico chega ao fim ao se jogar da janela do 15° andar do Royal Residence.

Ou, pelo menos, é o que tudo indica.

Trecho do livro ''Colega de Quarto'' de Victor Bonini
Fatos estranhos vinham acontecendo em sua vida. Primeiro, uma escova de dentes que apareceu na pia do nada, depois, um novo par de chinelos no quarto de hóspedes, o micro-ondas que é ligado sozinho durante a noite, barulhos estranhos a qualquer hora e luzes que se apagam de modo misterioso e finalmente o vulto do colega de quarto entrando em seu apartamento pela porta da frente.

Desesperado, ele invade durante a noite o escritório do advogado e detetive particular de meia idade Conrado Bardelli, que não vê como pode ajudar o rapaz. Depois de uma ligação desesperada, cortada abruptamente, Eric despenca da janela do seu apartamento.

Nas primeiras horas da manhã, Conrado recebe a visita do amigo e delegado Wilson, que fala sobre a morte do rapaz, aparentemente suicídio. Culpado por não conseguir impedir a morte de seu cliente, Conrado compra a briga e assume o caso investigando por conta própria.

Arquitetando um universo ficcional contemporâneo plausível ao sobrenatural, porém totalmente racional e de várias nuances, Victor Bonini escreveu um livro que não nos faz pensar se ''Há alguém inocente?'' e sim, quem não é culpado.