sexta-feira, 6 de outubro de 2017

"Em sua morada em R'lyeh o adormecido Cthulhu espera sonhando" - O chamado de Cthulhu (H.P. Lovecraft)


A COISA MAIS MISERICORDIOSA no mundo, eu acho, é a incapacidade da mente humana correlacionar todos seus conteúdos. Nós vivemos em uma plácida ilha de ignorância no meio de um oceano negro infinito, e não era para que pudéssemos navegar para longe. As ciências, cada uma esticando a corda em sua própria direção, nos causaram pouco mal até agora; mas algum dia esse mosaico de conhecimento dissociado nos legará um terrível panorama da realidade e de nossa pavorosa amedrontadora posição neste lugar, tão terrível, que ficaremos loucos diante da revelação ou fugiremos covardemente da luz mortífera para a paz e a segurança de uma nova Idade Negra. - H.P. Lovecraft

Achar algo para dizer de um dos contos mais comentados nos últimos anos no Brasil e no mundo inteiro é realmente algo difícil: não há nada, absolutamente nada que não foi dito. Já foi dito que ele foi o ponta pé de todos os Mythos, que influenciou uma gama de escritores, de games, de filmes e todas as artes em geral.

O que dizer de O chamado de Cthulhu?

O autor aqui parte de uma conversa informal com Oscar Nestarez, Mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP. Quando o procurei tentei ser sincero: tudo sobre esse texto já foi dito, não tenho mais nada o que escrever ou acrescentar. Foi quando ele falou algo que nunca esqueci: Sinta o texto. Então, ai vou tentar fazer uma analise do que senti no texto. Espero corresponder as expectativas dos seguidores e leitores ocasionais dessa página.

A princípio o estranhamento. Nada faz sentido com nada no início. Temos uma introdução no primeiro parágrafo que dá um pouco o tom do que será trabalhado, e nisso o narrador vai discorrendo sobre eventos anteriores a ele - como a morte do tio e a estranha pesquisa dele - até eventos e ocasiões de busca, onde ele mesmo tenta fazer a própria pesquisa, mantendo o trabalho de seu familiar.

O narrador observa todo o desespero de seu tio ao se deparar com coisas que ele nunca tinha visto em toda a sua vida acadêmica - coisas sobrenaturais envoltos em sonhos, aparições e artes esculpidas em argila.

O terror na narrativa busca sempre os efeitos ocasionados pela coisa. A caixa com informações desconexas que começavam a se encaixar em manuscritos, sociedades secretas, ceitas ocultas, surtos de esquizofrenia e relatos de pesadelos ligados a criatura de argila: algo humanoide com rosto de polvo e asas de dragão.

Talvez esse seja o sentir que o Oscar fale: se deixar levar pelas longas e cansativas descrições, cair nas sugestões, pensar que existe mais coisas entre nós e o mundo lá fora - Lovecraft conseguiu fazer com isso seu o espaço, demonstrar seu talento e conquistar amigos e leitores.