quinta-feira, 4 de maio de 2017

Especial Círculo das Ideias: Realidades Adaptadas de Philip K. Dick #6: "O homem dourado"


- É sempre quente assim? - perguntou o vendedor. Ele se dirigia a todos que estavam no balcão e nas cabines surradas perto da parede. Era um homem gordo de meia-idade, de sorriso simpático, terno cinza amarrotado, camisa branca manchada de suor gravata borboleta caída e chapéu panamá. - Philip K. Dick

Originalmente publicado em 1953, O homem dourado (originalmente nomeado pelo autor de O deus que corria) inspirou o filme O Vidente em 2007 tendo Nicolas Cage no papel-titulo.

Philip K. Dick retrata um ponto de vista diferente do autor sobre os super seres - na época, nomeados de mutantes. Na década de 50 muitos autores americanos de ficção científica escreviam sobre humanos com gloriosos superpoderes e que eles nos conduziriam para a nova idade das luzes, nos guardando e nos protegendo.

É uma novela sobre um jovem de pele dourada e feroz com um dom de ser capaz de ver o futuro. Capturado pelo governo, que caçava esses mutantes, ele passa a realizar vários testes de aptidão e, na primeira oportunidade, tenta escapar utilizando dois dons: o de prever o futuro e sua beleza dourada.

Muito criticado na época, Dick pensou fora da caixa e inovou o mundo ficcional. Em um diálogo com os seus contemporâneos, pode-se dizer que essa história são as sementes de outro livro da Editora Aleph, o livro Coração de Aço, de Brandon Sanderson, primeiro volume da série Executores.

A obra distópica apresenta pessoas de diferentes origens que recebem misteriosamente superpoderes, mas são corrompidas por eles e tornam-se vilões. Após tomarem o controle das cidades, eles criam uma realidade terrível, submetendo os humanos a uma vida de servidão, ou morte - cenário que tenta ser evitado a todo o custo na narrativa de Dick, tendo o Estado uma policia especializada em combater esse tipo de mutantes.

SOBRE O AUTOR
Considerado por Ursula K. Le Guin como Jorge Luis Borges norte-americano, Philip Kindred Dick nasceu na cidade de Chicago em 1928. De 1955, ano de seu primeiro livro, até 1982, Dick publicou 44 romances e 121 contos, uma média de um romance a cada sete meses e um conto a cada 81 dias, sem parar, por 27 anos. Entre eles Valis, Ubik, Os Três Estigmas de Palmer Eldritch e os premiados O Homem do Castelo Alto (que dedicou para sua mulher Anne, que o desprezava dizendo que era um miserável e empalideceu ao descobrir os termos da dedicatória: Para Anne, minha mulher, de quem sem o silêncio eu não teria escrito esse livro) e Fluam, Minhas Lágrimas, Disse o Policial. O ritmo visivelmente frenético foi mantido à base de muita anfetamina – apesar dos boatos que sempre circularam à sua volta, Dick passou mais ou menos batido pelo LSD, a droga da moda na sua época, tendo apenas uma bad trip em toda sua vida (um boato divertido é que a revelação religiosa - ele foi durante a maior parte de sua vida adulta um católico convertido - que lhe ocorreu mais tarde seria um flashback dessa única viagem). Com dificuldades em ficar sozinho, teve cinco casamentos, um período de alguns meses em que sua casa se transformou num ponto de uso e tráfico de drogas, uma temporada voluntária numa clínica de reabilitação e até um par de semanas no apartamento de um casal de desconhecidos no Canadá. Morreu em 1982, aos 53 anos, em Santa Ana decorrência de um acidente vascular cerebral. Outros livros de sua autoria ainda seriam publicados postumamente, como Realidades Adaptadas, e é provável que ainda existam alguns por publicar...