sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

A Última Superstição: Uma Refutação do Neoateísmo | Edward Feser


No ano de 2004, o filósofo Anthony Flew, que até aquele momento fora talvez o ateu mais proeminente do mundo, anunciou que havia mudado de ideia. Embora não tivesse nenhuma intenção de aderir ao cristianismo nem a qualquer outra religião monoteísta tradicional, revelou que havia sido levado, por meio de argumentos filosóficos, a concluir que de fato existe um Deus afinal de contas — especificamente, uma Causa Primeira do universo, tal como descrita por Aristóteles. Talvez o raciocínio aristotélico por trás da mudança de Flew surpreenda tanto quanto a própria conversão. Ao lado de Platão, seu professor, Aristóteles é quase universalmente considerado o maior filósofo que já existiu. As ideias de ambos são conhecidas e estudadas há mais de 2.300 anos. Flew, que tinha 81 anos na época da conversão, fora considerado, nos 50 anteriores, um dos filósofos mais respeitados e influentes do mundo. Seria natural pensar que, sem dúvida, não existia nenhum argumento a favor da existência de Deus que ainda não conhecesse. Contudo, no fim da carreira e em face do ateísmo cuja defesa fizera sua reputação por meio século, Flew viu-se admitindo que o antigo pensador grego ao qual os medievais se referiam como simplesmente "O Filósofo" estivera certo o tempo todo. "Como não era especialista em Aristóteles", explicou Flew, "havia partes de sua filosofia que estava lendo pela primeira vez". - Edward Feser
Se você leu Deus, um Delírio de Richard Dawkins ou livros semelhantes de Christopher Hitchens, Daniel Dennett ou de qualquer um dos novos ateus, você deve a si mesmo ler um contraponto, uma refutação inteligente de um filósofo profissional.

Resultado de um financiamento coletivo, o livro foi trago pela Edições Cristo Rei para o Brasil no final de 2016. O autor, Edward Feser, é um filósofo tomista, professor de filosofia no Pasadena City College sendo também professor assistente de filosofia na Universidade Loyola Marymount e estudante visitante no centro de filosofia social e política da Bowling Green State University , em Ohio.

Feser mostra em seu livro (que tem tudo para ser polêmico nos tempos atuais) que o ateísmo não é um simples embate entre religião e ciência, e sim de modos e modelos de vida: assumindo um compromisso a priori que tentam justificar a posteriori. Não apelando a experiências pessoais emocionais ou textos de prova da Bíblia, mas a razão e filosofia, o autor acaba mostrando como a crença em primeira causa é racional e descrença em algo superior pode ser apenas um absurdo.

Logo na primeira parte do livro o autor faz um recuo metodológico, pontuando o que discorda dos neoateus e o que será apresentado nas próximas páginas. A partir dai, ele mergulha na história da filosofia, passado pelas formas de Platão até chegar nas conclusões da Suma Teológica de São Tomás de Aquino. A leitura é fácil e, não sendo uma escrita acadêmica, o autor apresenta falhas graves dos novos secularistas.

Tudo isso é possível graças a competência que Feser mostra o resultado que essa discussão implicava graças a uma falta de repertório do outro lado. Ele aponta uma falta grave no mundo intelectual atual e que cabe perfeitamente no Brasil. Poucas pessoas que têm paciência e dedicação suficientes a ponto de enfiarem a cara em livros que não concordam. Parecem temer ser convencidos por eles, quem sabe crêem ser isso um pecado mortal.

Os novos ateus não fizeram um esforço forte o suficiente para assumir os melhores argumentos para o teísmo e refutá-los. Em vez disso, segundo Feser, eles passam a maior parte do tempo a criticar a religião e seus efeitos sociais, especialmente suas formas mais estúpidas (que, portanto, são os tipos que obtêm a maior publicidade, mostrando para todos o fracasso dos intelectuais religiosos em ter mais likes ou seguidores [principalmente os católicos, que estão sendo engolidos pelos evangélicos - resultado de sucessivas escolhas teológicas complicadas, erradas - as CEBs que o digam!]).

Trata-se de um consumo da produção intelectual somente dos seus pares. Os destros só leem coisas produzidas pela de direita, ainda que fale sobre os canhotos; e os canhotos só leem coisas de esquerda, ainda que sobre os destros - e ambos, uma coisa curiosa, se esquecem que são partes de um todo. É uma fórmula de imbecilização, peneirando o conhecimento e o nivelando por baixo, tornando todos autoconfiantes e ignorantes.