Muitas vezes visto como um elemento menor diante de O Senhor dos Anéis, a história de Bilbo foi essencial para o trabalho de Tolkien. No aniversário de 80 anos do lançamento do clássico O Hobbit de J.R.R. Tolkien, o Golem trás uma resenha especial. Publicada no Times no dia 2 de outubro de 1937, sob autoria anônima, o texto classificava o livro como um "clássico". Um elogio vindo de seu grande amigo C. S. Lewis, escritor que publicaria, anos depois, a famosa série de livros de fantasia As Crônicas de Nárnia.
As editoras afirmam que O Hobbit, embora muito diferente de Alice, se assemelha com o conto por ser tratar do trabalho de um professor. Uma verdade mais importante é que ambos pertencem a uma classe muito pequena de livros que não têm nada em comum, exceto o fato de nos admitirem em um mundo próprio deles - um mundo que parece ter acontecido muito antes de nós tropeçarmos em direção a eles, mas que, uma vez encontrado pelo leitor certo, torna-se indispensável para ele. Seu lugar é com Alice, Flatland, Phantastes, The Wind in the Willows. [1]
Definir o mundo d'O Hobbit é, obviamente, impossível, porque ele é novo. Você não pode antecipar isso antes de ir lá, assim como não pode esquecer depois de ter lá ido. As admiráveis ilustrações e mapas de Mirkwood e Goblingate e Esgaroth, feitas pelo autor, dão um leve indício - assim como os nomes do anão e do dragão que prendem nossos olhos quando folheamos pela primeira vez as páginas. Mas há anões e anões, e nenhuma receita comum para histórias de crianças lhe dará criaturas tão enraizadas em seu próprio solo e história como as do professor Tolkien - que, obviamente, sabe muito mais sobre elas do que ele precisa para esse conto. Menos ainda, a receita comum nos preparará para a mudança curiosa dos começos de sua história ("hobbits são pessoas pequenas, menores do que anões - e não têm barbas -, mas muito maiores do que Lilliputians") [2] ao tom de saga dos capítulos posteriores ("Está na minha cabeça perguntar que parcela de sua herança que você teria pago a nossa família se tivesse encontrado o tesouro desprotegido e nós mortos"). [3] Você deve ler para si mesmo para descobrir quão inevitável é a mudança e como ela acompanha a jornada do herói. Embora tudo seja maravilhoso, nada é arbitrário: todos os habitantes de Wilderland parecem ter o mesmo direito inquestionável de sua existência como os de nosso próprio mundo, embora a criança afortunada que os encontre não terá ideia - e seus não-iniciados familiares mais velhos muito menos - das fontes profundas em nosso sangue e em nossa tradição a partir das quais eles brotam.
Assim, deve ser entendido que este é um livro para crianças apenas no sentido de que a primeira de muitas leituras pode ser realizada no berçário. Alice é lida seriamente por crianças e com riso por adultos; O Hobbit, por outro lado, será mais divertido para seus leitores mais jovens, e apenas anos depois, em uma décima ou uma vigésima leitura, eles começarão a perceber o que a erudição hábil e a profunda reflexão fizeram para que tudo nele seja tão maduro, tão amigável e, a seu modo, tão verdadeiro. A previsão é perigosa: mas O Hobbit pode muito bem ser um clássico.
Revisão publicada no Times Literary Supplement (2 de outubro de 1937), 714.
1. Flatland (1884) do escritor Edwin A. Abbott e Phantastes (1858) do escritor George MacDonald .
2. O Hobbit - Lá e de Volta Outra Vez (1937), Capitulo 1.
3. Ibid., Capitulo 15.