Antologias pagas não são o inimigo. Editoras pagas também não.
ALIÁSSS, batemos palmas para muitas editoras por estarem "investindo na literatura nacional", mas que na verdade são pagas, mas ninguém sabe.
ALIÁSSS, tem muito autor que está sendo aplaudido por ter sido contratado por uma editora foda, mas que na verdade, pagou. É que você não sabe.
Esses autores estão errados? Não. Estão certíssimos. Estão apostando neles mesmos e na arte na qual acreditam e merecem respeito.
Essas editoras estão erradas? Bom...aí é que entra o caso a caso.
Conheço donos de editoras que cobram para publicar. São apaixonados por literatura. Prestigiam autores nacionais. Leem autores nacionais. Mas não têm grana para bancar todos. Eles fazem uma proposta. A pessoa aceita se quer. Eles editam, preparam o texto, muitas vezes dão coaching de escrita e carreira, revisam, divulgam e lançam o livro. Dois anos depois começam a investir na publicação tradicional. To vendo acontecer.
Existem as armadilhas, sim. Não precisa ser um gênio para ver que pagar para publicar 3 mil caracteres junto com 30 autores não é um bom investimento (embora seja um direito da pessoa, ué). Não precisa ser brilhante para sacar que se a editora só vai imprimir 150 livros para você se você comprar 100, é furada.
O Ghost Story Challenge, da ABERST, é pago. O conselho da ABERST lutou com vários fornecedores, negociou contratos por semanas e fez tudo o possível para deixar o evento acessível. O valor do evento, de R$ 450 para associados e R$ 550 para não associados cobre: 12 horas de aluguel de uma mansão segura e limpa para os participantes. Cobre 3 cursos de escrita (com Fábio Fernandes para estrutura de contos, Jhefferson Passos para minicontos e moi para ambientação e descrição). Cobre o jantar. Cobre o café-da-manhã. Cobre os monitores do evento. Cobre certificado e kit de boas-vindas. Cobre um trabalho meticuloso de preparação de texto, edição, revisão, capa, diagramação e impressão da antologia resultante da experiência. Cobre um exemplar para o autor. E sim, os autores vão ganhar royalties. Cobre a experiência de produzir e debater literatura de gênero com colegas e fazer networking. E a ABERST não vai lucrar com o evento. Eu sou uma fodida de grana. Mais do que uns, menos do que outros, e mesmo assim, eu pagaria o dobro.
Então por favor, não generalizem. Eu também generalizava. Até conhecer os bastidores. Até conhecer picaretas e gente honesta, até saber a história real por trás de muitas publicações.
Vamos debater os projetos, os fatos, e tentar melhorar essa porra. O que leva autores a gastar fortunas nessas furadas é essa mania de endeusar a publicação "por editora", aquele selinho na capa. Mesmo sabendo que vai ganhar mais sozinho, mesmo sabendo que vai poder tomar as decisões criativas e de mercado, o autor abre mão de tudo isso pelo maldito selinho na capa, por essa validação infantil. Há editoras maravilhosas de todos os tamanhos. Há editoras que simplesmente não oferecem o que o autor precisa. E TUDO BEM. Que cada um escolha o que é melhor para si. Pensem mais nos livros e nas histórias do que em status e vaidade. Essa merda contamina e confunde, e você começa a achar que só tem sucesso quem está numa editora gigantesca, e não quem escreve livros bons. E quando você menos espera tá lá, preenchendo cheques sem saber se vai valer a pena.
Obs: não é indireta para ninguém em especial. É um desabafo. Se você acha que foi para você, não me odeie injustamente. Me pergunta inbox: "foi para mim?"
Garanto que não foi.