segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Especial Círculo das Ideias: O Grande Deus Pã, de Arthur Machen


Arthur Machen
Arthur Machen foi um escritor e jornalista galês, famoso pelos seus contos e novelas de terror e fantasia. Nasceu em 03 de março de 1863, no pequeno povoado de Caerleon, no Condado de Monmouth, País de Gales.
Por volta de 1890, Machen começou a publicar em revistas de literatura, fortemente influenciado pelos trabalhos de autores como Edgar Allan Poe e Robert Louis Stevenson – Machen era um grande fã de Stevenson, principalmente devido à obra “Dr. Jekyll and Mr. Hyde” (O Médico e o Monstro), de 1841.
"Digo que sou um homem, mas quem é o outro que se oculta em mim?".

Capa da primeira edição de
O Grande Deus Pã, publicada em 1894
Em 1894, publicou o grandioso “The Great God Pan” (O Grande Deus Pã), que é tido até hoje como uma das suas obras-primas. “Um sucesso insano!” foi o que declarou Oscar Wilde, quando o livro foi publicado.
A história causou forte impacto literário no Reino Unido daquela época; jornais criticaram-na arduamente, e tal crítica permaneceu sobre Machen em todas as próximas décadas de sua carreira, sendo um escritor marginalizado e um tanto esquecido, resgatado no Brasil por conta da citação de Machen como influência para H.P. Lovecraft, em seu livro “O Horror Sobrenatural em Literatura”, que levou a Editora Iluminuras  a lançar o livro “O Terror”, de Arthur Machen, contendo as histórias “O Terror” e “Ornamentos em Jade”. Agora, em 2016, a Editora Penalux nos presenteou com uma ótima edição de “O Grande Deus Pã”.


O Grande Deus Pã
Falemos sobre “O Grande Deus Pã”, então:

O livro traz uma história densa, construída por fragmentos de acontecimentos, como ocorre em “O Chamado de Cthulhu”, de H.P. Lovecraft. O mistério e o horror são construídos gradualmente e com perfeição por Machen. Sutilmente, a cada assassinato misterioso, a cada suicídio registrado, a cada observação feita pelos personagens; um por um, os tijolos de um horror são postos e fazem elevar as muralhas do medo ao redor do leitor.

A trama é basicamente a seguinte:

No início da história, o neurologista Dr. Raymond faz um experimento com uma garota: o doutor busca contato com Pã por intermédio de Mary, a garota. Após a diabólica experiência psíquica, a garota perde a razão e entra em estado vegetativo, porém, o Dr. Raymond parece obter êxito:
“- Sim – disse o doutor, ainda com total frieza – É uma grande pena; está irremediavelmente idiotizada. Contudo, não havia outro meio; e, afinal, ela viu o Grande Deus Pã”.
Anos depois, tem início um terror crescente na cidade. Misteriosos acontecimentos ocorrem, relacionados a uma mulher desconhecida chamada Helen Vaughan. Uma série de mortes toma conta dos rumores entre os moradores. Suicídios com horror tangível estampado nos rostos dos mortos, como se houvessem sido mortos por susto ou medo. Então, o Sr. Clarke, personagem que acompanhou e testemunhou o hediondo experimento do Dr. Raymond, vai atrás de respostas para o mistério, mergulhando nas brumas acerca das mortes e quais as relações do horror com a estranha Helen Vaughan.

O Grande Deus Pã, edição da
Editora Penalux, de 2016
Essa história é, sem dúvidas, uma das melhores e mais importantes obras da Literatura de Horror do final do século XIX, ao lado de "O Rei de Amarelo" (1895), de Robert Chambers. Inclusive, a estrutura e a maneira de como a trama são construídas, e também como os eventos são apresentados, é bem semelhante em ambas as geniais histórias.
Machen apresenta conhecimento e um incrível fascínio pessoal pela mitologia celta e romana que povoava as terras onde cresceu e se tornou escritor (País de Gales e Inglaterra; terras que foram, há séculos, colônias romanas na vasta Europa bárbara). Tal conhecimento nessas mitologias nos proporcionam escritos de horror e mistério sobre deuses e mitos fantásticos, tratados com genialidade insuperável pelo autor.

Não há adjetivos suficientes para descrever a genialidade de Arthur Machen. Sua obra é tão significante que ecoou por todas as sombrias ruas da Literatura de Horror, influenciando os mais notáveis escritores como Clark Ashton Smith, H. P. Lovecraft, Robert E. Howard, Karl Edward Wagner, Clive Barker, Stephen King, entre outros.
O próprio Lovecraft declarava que "O Grande Deus Pã" era uma das maiores obras na história da Literatura". Eu acredito que sua história "O Horror de Dunwich" foi fortemente influenciada pelos escritos de Machen, em especial esta história que aqui comento, pois ambas lidam com um mistério crescente acerca de um filho amaldiçoado, o fruto proibido de uma consumação diabólica. Robert E. Howard também foi influenciado por histórias como "O Vale dos Seres Brancos" (The White People). Howard utilizou criaturas e mitos criados por Machen em vários de seus contos de horror, como "O Povo Pequeno" e "Vermes da Terra".

Em suma, Arthur Machen foi um gênio fora de seu tempo, um apaixonado por literatura e mitologia, pelo terror, psicologia humana, pelo oculto e cósmico. É por isso que sua obra é tão versátil e cheia de mistério, pois Machen consegue transmitir sua paixão por tais temas em suas histórias, suas tramas, personagens e desfechos terríveis. Com certeza é um autor que merece ser publicado em nosso país; eis aqui meus parabéns à Editora Penalux, pela publicação deste clássico. E que venham mais autores e mais livros de mesma importância à tona. Sinto que após a publicação deste livro em terras brasileiras, seus leitores estarão sempre mais atentos aos sons da floresta, à luz fria da lua, iluminando as folhagens frescas da noite, banhadas pelo som da flauta de Pã.