quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Guimarães Rosa e Graciliano Ramos: um desencontro - Via Clube de Literatura Clássica


No ano de 1938, aconteceu o concurso da Livraria e Editora José Olympio, que dedicava ao melhor escritor o Prêmio Humberto de Campos. Naquele ano, os autores que se destacaram foram Guimarães Rosa, com um livro de contos que, posteriormente, se tornaria “Sagarana”, e Luís Jardim, com “Maria Perigosa”.

Para a definição do vencedor, os jurados ficaram horas debatendo e analisando os livros concorrentes. Graciliano, que se posicionou contra a obra de Rosa, argumentou que o concurso era de literatura de ficção e não deveria ter envolvimento com o Instituto Butantã — fazendo alusão às temáticas dos contos e à construção das narrativas “regionalistas” de Guimarães Rosa.

Diversos jurados contrariaram Graciliano e espumaram de raiva, mas não teve jeito. “Maria Perigosa” foi a grande vencedora e os contos de Guimarães Rosa tiveram de se contentar com a medalha de prata (tudo por causa do alagoano).

Graciliano contou a história completa da premiação em seu livro de crônicas “Linhas Tortas”, lançado logo depois da publicação final de “Sagarana”, que desta vez recebeu diversos elogios. Lá ele comenta que a obra de Rosa ainda não estava madura, continha um excesso de contos com alguns pontos muito altos e outros muito baixos e não merecia, de fato, o primeiro lugar.

O autor finalizou seu texto com uma afirmação que se revelou profética: “Certamente ele fará um romance, romance que não lerei, pois, se for começado agora, estará pronto em 1956, quando os meus ossos começarem a esfarelar-se”.

Falecido em 1953, Graciliano não pode conhecer Guimarães Rosa na plenitude do ”Corpo de baile" e do ”Grande sertão: veredas”, publicados em 1956 — mas certamente não o colocaria em segundo lugar mais uma vez!