terça-feira, 18 de março de 2025

"Agora o inverno de nosso desgosto" - Monológo de Abertura de Ricardo III - William Shakespeare


Agora o inverno de nosso desgosto

Fez-se verão glorioso ao sol de York;

[...]

E eu, sem jeito para o jogo erótico,

Nem para cortejar o próprio espelho;

Que sou rude, e a quem falta a majestade

Do amor para mostrar-me a uma ninfa;

Eu, que não tenho belas proporções,

Malfeito de feições pela malícia

Da vida, inacabado, vindo ao mundo

Antes do tempo, quase pelo meio,

E tão fora de moda, meio coxo,

Que os cães ladram se deles me aproximo;

Eu, que nesses fraquíssimos momentos

De paz não tenho um doce passatempo

Senão ver minha própria sombra ao Sol

E cantar minha própria enfermidade:

Já que não sirvo como doce amante,

Para entreter esses felizes dias, 

Determinei tornar-me um malfeitor

E odiar os prazeres destes tempos.

Armei conspirações, graves perigos,

Profecias de bêbados, libelos,

Para pôr meu irmão Clarence e o rei

Dentro de ódio mortal, um contra o outro.

E se o Rei Eduardo for tão firme

Quanto eu sou falso, sutil e traiçoeiro,

Inda este dia Clarence será preso,

Pois uma profecia diz que "G"

Será o algoz dos filhos de Eduardo.