"Se você não se lembrar do que aconteceu nas últimas horas, nós faremos com que sofra ainda mais, como se estivesse em um dos Nove Círculos do Inferno..."
Foi o que eles disseram antes do terceiro eletrochoque.
E essa nem foi uma das piores partes. – Raphael Draccon
Foi em 2012, se eu não me engano, quando eu comprei Espíritos de Gelo do Raphael Draccon... Eu sempre fui apaixonado por livros de fantasia – de longe meu gênero literário favorito – e depois de viajar pelo mundo mágico de Dragões de Éter e pelos sonhos de Fios de Prata eu estava pronto para mais uma aventura fantástica desse escritor de que eu gostava cada vez mais.
A dinâmica dos capítulos é genial e – novamente em minha opinião – os diálogos daqueles em que há interrogatório são extremamente inteligentes e cheios de referências, sendo minha parte favorita do livro. A história também recompensa o leitor que seguir até o fim − é como se apresentasse dois finais: o final da história propriamente dito, e dois capítulos após uma página em branco, bem no final do livro, quase como um “capítulo extra”, que é capaz de mudar todo o modo como o leitor encarava a história até então. (Sério, é genial.)
Eu estava errado.
Ao contrário do que eu esperava, Espíritos de Gelo não é uma fantasia, eu o classificaria mais como um suspense ou ficção. Devo avisar também que ele é, em minha humilde opinião, o livro mais diferente de Raphael Draccon. Por algum motivo, ele não se encaixa com os outros...
Isso o torna ruim?
Definitivamente não, só diferente. E, apesar de não ser o que eu esperava, esse livro capturou minha atenção e com certeza recompensará o leitor que seguir até sua última página com uma trama intrigante e surpreendente.
A história começa quando um homem acorda em uma sala escura, onde um sujeito baixinho – vestindo sapatos, calça social, blusa de couro... e uma camiseta do Black Sabbath! –, acompanhado de dois capangas, insiste em que ele deve se lembrar de tudo o que aconteceu antes dele chegar até aqui... Detalhadamente, e ele não vai poupar meios para isso. O problema é que, por causa do choque, o sujeito não se recorda de nada, e sua mente é só um amontoado de lembranças confusas, que aos poucos vão fazendo sentido e formando uma história enquanto a tortura continua.
O livro é dividido em duas partes que se intercalam a cada capítulo. Ora estamos no presente, na sala escura onde o protagonista é torturado, forçado a lembrar de um passado sobre o qual ele não tem certeza de que realmente quer saber, ao passo que diálogos rápidos e afiados são travados entre ele e “Black Sabbath”. Logo em seguida, voltamos ao passado, onde a história vai se formando lentamente, conforme as lembranças são destravadas, e descobrimos um homem deprimido que desistiu da vida... até encontrar uma mulher chamada Mariana... E nesse ritmo, vemos a trama engrossar a cada capítulo, à medida que violência, sexo e vingança são acrescentados em altas doses à mistura.
A dinâmica dos capítulos é genial e – novamente em minha opinião – os diálogos daqueles em que há interrogatório são extremamente inteligentes e cheios de referências, sendo minha parte favorita do livro. A história também recompensa o leitor que seguir até o fim − é como se apresentasse dois finais: o final da história propriamente dito, e dois capítulos após uma página em branco, bem no final do livro, quase como um “capítulo extra”, que é capaz de mudar todo o modo como o leitor encarava a história até então. (Sério, é genial.)
Por fim, se você estiver procurando uma experiência à la Dragões de Éter, talvez esse livro não seja pra você.
Agora, se você estiver procurando um bom livro, talvez essa sombria trama seja ideal…
…E essa nem é uma das melhores partes.
VITOR CANTARIN é filho de uma preparadora de textos, e por isso cresceu em uma família que está sempre lendo e cercado de livros de todos os tipos e tamanhos. Sendo artes uma de suas maiores paixões (a outra são cães), já tentou desenhar, compor melodias e até remixar músicas, mas sua verdadeira paixão é a escrita. Entre suas inspirações estão todos os locais fantásticos que os livros, filmes e jogos têm o prazer de nos apresentar.