sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Especial de Natal: Do éter ao apocalipse - Raphael Draccon e Eduardo Spohr



Para entender o estopim da atual literatura fantástica nacional, temos que voltar no tempo. Mais basicamente, a dez anos atrás, em 2007. Duas obras foram lançadas de formas diferentes, porém, com dificuldades.

O primeiro livro chegou ao público em 13 de setembro de 2007 na Bienal do Livro do RJ. Raphael Draccon lança pela Editora Planeta 1° volume da trilogia Dragões de ÉterCaçadores de Bruxas. O livro não teve cuidado nenhum na edição, faltando até código de barra - mesmo o autor sendo bancado por Pascoal Soto, um dos membros da Editora Planeta na época e que levaria Draccon futuramente para a LeYa - e praticamente esgotando seu estoque no sábado, um dos dia mais cheios do evento.



O segundo foi ao público no dia 28 de setembro de 2007, ficando nas prateleiras da NerdStore após vencer um concurso de uma gráfica, que lhe rendeu a publicação de cem exemplares de A Batalha do Apocalipse, vendido na NerdStore, tirou o site do vermelho: a demanda cresceu rapidamente, fazendo o Jovem Nerd – portal de notícias e entretenimento sobre a cultura pop – a trabalhar pela primeira vez com o mercado editorial tendo feito mais 500 livros, que foram vendidos em menos de 2 meses.




Em um caso raro nessa linha editorial, Draccon como autor estreante, publicando por uma grande editora, sendo a primeira investida da Editora Planeta no setor, conseguiu ficar entre os mais vendidos do Brasil. Enquanto isso, os setenta volumes de Spohr disponíveis na NerdStore esgotaram em um dia. O Brasil estava carente em fantasia nacional e internacional. Os leitores de O Senhor dos Anéis e Harry Potter buscavam mais, buscavam compreensão: algo que fosse próximo deles e do mundo em sua volta. Uma conexão entre o fantástico e a realidade, uma nova manifestação da literatura nacional.

Ambos, nessa década, redefiniram o cenário nacional. Não fizeram parte da comitiva brasileira que homenageava o país, em 2013, em um dos principais encontros da literatura mundial - a Feira Internacional do Livro de Frankfurt - mesmo sob protestos de Paulo Coelho, eles não foram convidados pelo MinC - Ministério da Cultura.

Mas não foi Draccon e Spohr que perderam a Feira naquele ano. Foi a Feira naquele ano que perdeu Draccon e Spohr.


A diferença entre as obras se explica pelo horizonte de consciência de ambos os autores. Draccon quer ser seu amigo. É aquele que fala no seu ouvido, que quer buscar o diálogo com o inevitável. Spohr é centrado, sua narrativa é, comparado com Draccon, obscura, com cenários de grimdark. Draccon em seu mundo ficcional vai tocar em seus leitores de forma real, enquanto Spohr parte do real para compor o seu mundo. Os personagens de Draccon enxergam o mundo de baixo para cima, já os de Spohr enxergam tudo de cima para baixo. Os personagens de Draccon se descobrem em sua jornada de heróis, os de Spohr já são heróis e só querem seguir em frente.

O mundo do fantástico nacional nessa década se divide em leitores do Dracconverso e do Spohrverso, dos Filhos do Éden e Dragões de Éter. Aqueles que leem os dois podem se considerar sortudos, pois já foram do espaço situado além da atmosfera ao final de todas as coisas, do éter ao apocalipse.