Mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP e autor de livros e ensaios de horror, Oscar Nestarez vai falar do papel fundamental de Poe na constituição das narrativas de horror como a conhecemos atualmente, baseando no ensaio A filosofia da composição. Também será apresentada uma biografia resumida do autor, cuja vida é inseparável da produção ficcional e encerrando a apresentação, será realizada uma breve análise do conto Os fatos no caso do senhor Valdemar, de modo a comprovar as hipóteses propostas na palestra. Será a partir das 10 horas, na Casa do Saber Fantástico (Casafan): Rua Fradique Coutinho, 1139, na Vila Madalena (a poucas quadras do metrô Fradique Coutinho). O evento é gratuito.
ROMANCES UTÓPICOS E MOEDAS DISTÓPICAS
O segundo encontro de discussão de leitura mediado pela escritora Ana Rüsche terá como tema O conto da Aia da Margaret Atwood, e a convidada para participar será Renata Corrêa, escritora, feminista e roteirista. Ao início da sessão, contextualização de autor e obra, comentários sobre o romance, informações técnicas e leitura de alguns trechos. O livro será usado no especial Circulo das Ideias - Dystopic Universe do Golem. O encontro será na biblioteca e livraria Tapera Taperá na Avenida São Luiz, n° 187, 2º andar, loja 29 - Galeria Metrópole às 11 horas (término previsto as 13). Para se cadastrar, clique aqui.
CLUBE LeYa DE FICÇÃO FANTÁSTICA - 4ª Edição
A LeYa Brasil e a Fnac, em parceria com os colegas do site Acervo do Leitor e o grupo Reino dos Livros apresentam a nova edição do Clube LeYa de Ficção Fantástica. Em sua 4ª edição, o tema levado a debate é Fantasia Urbana e Super-Heróis: debatendo gêneros literários. A conversa se desenvolve na investigação sobre os conceitos e definições de Fantasia Urbana, sobre as principais obras do gênero e os maiores filmes de super-heróis da atualidade e como seria o mundo real se os super-heróis estivessem entre nós. A Fnac desse evento fica na Praça dos Omaguás, n° 34. A duração será das 16:00 às 18:00
LANÇAMENTO DE LIVROS - Raphael Draccon e Carolina Munhóz
Na outra Fnac, na Paulista, faz uma parceria com a Editora Rocco e trazem de volta a São Paulo - capital - Carolina Munhóz e Raphael Draccon para lançar seus novos livros "Por um toque de magia", volume final da trilogia Leprechaun, e "O coletor de espíritos", stand-alone de Draccon. O endereço é: Avenida Paulista, 901 às 17:00. Dracoon que comemorou ontem dez anos de lançamento de sua magnum opus Dragões de Éter - o primeiro livro da trilogia chegou ao público em 13 de setembro de 2007 na Bienal do Livro do RJ e tem previsão para ganhar mais um volume: Estandartes de névoa. O prólogo foi divulgado ontem pelo autor em sua página nas redes sociais. Para ler, ele segue abaixo.
DRAGÕES DE ÉTER - ESTANDARTES DE NÉVOA
00
Dizem que o nome dele significa “mau conselho”.
Talvez isso seja uma invenção depreciativa, pois é normal que o homem comum se vingue de pessoas a ele extraordinárias de formas assim. Dizem que é filho dos pais errados, que se casou com as mulheres incorretas e que tomou as piores decisões. Há diferentes versões de sua origem, de sua paternidade, de seus ideais e de seus motivos. Talvez tenha matado menos homens do que deveria. Talvez mais. Talvez ele tudo tivesse feito acreditando ser o melhor para a própria pátria e toda humanidade afetada por ela, pois existe um fardo nas mãos dos homens que fazem História, que sempre é difícil de ser julgado.
O fato é que muito se diz e muito pouco se tem certeza. Não se sabe exatamente hoje em dia em que local ele está. Que aparência assumiu. Quantos aliados viajam com ele, e mesmo se ainda existe um aliado disposto ao feito. Na verdade, não se sabe mesmo se aquele homem tem aliados. E, se tiver, uma taberna inteira apostaria ainda assim que nenhum seria capaz de admitir isso.
Isolado como um urso, diziam no sul que viajava por caravanas com nomes falsos e roupas maltrapilhas, cheirando pior do que mendigos e gerando reações parecidas com a passagem de um leproso. Já ouvi um bardo manco dizer, entretanto, que um homem com lepra chama muito atenção e um renegado jamais iria querer isso para si. Parece um raciocínio sensato. No norte, costumam dizer que viajava cheirando pior do que orcos, o que convenhamos é mais depreciativo do que a comparação do sul, e que carregava sua armadura consigo e se apresentava como um cavaleiro longe de casa.
Não deixaria de ser uma mentira.
Quando caminhava, costumava fazer em silêncio, como se ninguém quisesse ouvir sua voz. Ou suas explicações. Quando de pé parecia sempre curvado, mas não como uma bruxa corcunda de poucos dentes, mas simplesmente um homem que carregava um mundo nas costas. Quando desembainhava a espada, não parecia diferenciar a frieza com que a embainhava. Quando dormia, precisava ainda assim estar em alerta, como se houvesse sempre alguém pré-disposto a matá-lo.
Muitos já o viram lutar e essas histórias ao menos possuem relações. Porque em todas elas, seja nas versões do sul ou do norte, existiam referências à sua habilidade para matar. Algumas histórias comentam que suas vitórias eram baseadas na experiência, afinal, um homem caçado o tempo inteiro tinha de aprender alguma coisa. Outras insistiam que possuía um estilo sujo como sua índole, e ludibriava os inimigos de maneiras desonrosas.
Essas, porém, não eram as melhores histórias.
Verdadeiras ou não, as melhores narrativas contavam como aquele homem seria hoje o maior cavaleiro em atividade em todo o mundo. Se não fosse, claro, renegado por todas as ordens de cavalaria.
Desenhos de seu rosto, baseados em suposições e relatos incompletos, enfeitavam as paredes de estabelecimentos de regiões diferentes, e variavam a recompensa escrita em letras garrafais. Não importava o valor, contudo, pago por uma coroa real. Todos os valores valiam à pena. Mercenários de muitos lugares o perseguiram. Caçadores de recompensas buscaram não apenas o pagamento pelo trabalho assassino, mas também a fama de concluí-lo. De fato, muitos tentaram o feito.
Ele matou todos.
Atrás de seus caminhos desenhava-se um rastro de sangue que corria como um rio torto. Era um homem cuja passagem vertia lágrimas. Era um espírito condenado à escravidão da própria escuridão ao seu redor. E, quando um homem caminha com muita treva ao redor de si próprio, ele possui apenas dois caminhos: acabar cego ou acostumado. No primeiro caso, ele jamais voltará a enxergar qualquer claridade. No segundo, ele pode se acostumar com o breu e passar a se incomodar com a luz.
Não importa qual caminho ele escolha nesse caso.
Ambos lhe custarão a paz interna.
Logo, era um homem indiferente à guerra ou à paz. Provavelmente o fardo que o perseguia houvesse influenciado isso. As pessoas dirão que não, que era sua índole e que ele merecia padecer em Aramis com os glóbulos oculares arrancados dentro de tigelas de água borbulhando, escutando o gargalhar de bruxas que se divertiam com a desgraça do mundo. Como dito, contudo, é difícil julgar o fardo dos homens que fazem História. Assim como também é difícil condenar a recepção do mundo a esse tipo de fardo.
Mas uma coisa, não importa em qual lenda, não importa em que cultura ou continente, recaía unanime sobre ele.
Todos o odiavam.
Talvez aquele homem tenha matado mais do que deveria. Talvez menos. Mas um único homem morto por ele fora suficiente para torná-lo o homem mais odiado do mundo.
Porque um dia ele matou Arthur Pendragon.