segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

"Eu vi Satã cair do céu como relâmpago" - A cor que caiu do espaço (H.P. Lovecraft)


Há pouco terminei uma nova história que pretendo lhe enviar na minha próxima correspondência. Ela tem lampejos quase poéticos, embora seja em boa parte realista, com uma ambientação prosaica ''a oeste de Arkham''. Algo cai do céu e o terror se instaura. Tudo é narrado por um velho quarenta anos depois; e o título é ''A cor que caiu do espaço''. É uma longa narrativa curta - tem a extensão exata de ''Cthulhu'' — correspondência de H.P. Lovecraft ao escritor e artista Bernard Austin Dwyer.

Um conto sem clímax, sem herói e que poderia ter saído dos olhos do próprio Cristo. Uma história em um cenário mínimo, que Lovecraft nos impõe sem frases reflexivas, um relato direto e que tudo fica subentendido.

E, à noite, todo Arkham ouvira falar da grande rocha que caíra do céu e se enterrara no solo ao lado do poço da casa de Nahum Gardner. (...) Descobriram o que parecia ser o lado de um grande glóbulo colorido, embutido na substância. A cor, semelhante a algumas das faixas do estranho espectro do meteoro, era quase impossível de descrever; e foi só por analogia que a chamaram de "cor"

Em um vilarejo a oeste de Arkham cai um meteoro e dentro dele o mal está encarnado. Publicado pela Editora Hedra, o volume em que o conto foi publicado trás também três ensaios: A confissão de um cético, breve ensaio em que o autor traça a evolução dos próprios interesses religiosos, científicos e filosóficos ao longo da vida, Notas sobre uma não entidade, o mais longo relato autobiográfico escrito por Lovecraft e, Notas sobre ficção interplanetária, artigo em que defende as possibilidades artísticas da ficção científica ataca os clichês deste gênero.

Não era fruto do mundo dos sóis e dos sóis que fulguram nos telescópios e nas chapas fotográficas dos nossos observatórios. Não era um sopro dos céus cujos movimentos e dimensões os nossos astrônomos medem ou julgam demasiado vastos para medir. Era apenas uma cor que caiu do espaço – o pavoroso mensageiro de reinos informes que transcendem a Natureza tal como a conhecemos…

P.S.: Um adendo: ele chama H.G. WellsClark Ashton Smith de semiclássicos de Literatura Interplanetária. O que será que para Lovecraft seria um clássico da Literatura Interplanetária?