quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Especial Círculo das Ideias: Eu, Robô de Isaac Asimov #8 "Evidência"

Sophia, um androide com inteligência artificial projetado para replicar expressões faciais humanas com precisão
- Ele assumiu um cargo público pela primeira vez em 2032. Você era apenas um menino naquela época, então não poderia se lembrar de como isso foi estranho. Sua campanha para prefeito com certeza foi a mais excêntrica da história... - Isaac Asimov
Entrando em um jogo político do novo mundo - que agora, unido, se divide em regiões - há no meio dos EUA uma corrida eleitoral e a U.S. Robots acaba entrando sem querer na mira de um dos concorrentes. Francis Quinn entra em contato com o diretor Alfred Lenning, afirmando que o seu adversário, o candidato Stephen Byerley, é um robô.

Byerly nega isso, mas deixa Quinn basear sua campanha em testar se ele é ou não um robô. Assim, a psicóloga roboticista Susan Calvin é chamada para resolver o conflito. As evidências apontadas para acusar Byerley de ser um robô é que o mesmo nunca foi visto comendo, mas isso, para Calvin, esse fato - ainda - não significa nada.

Publicado em 1946 na Astounding, talvez seja o conto que mais dialoga com a cultura cientifica atual e as histórias de Philip K. Dick.


ANDROIDE SOPHIA
Charlie Rose, um importante jornalista dos EUA e apresentador do programa 60 Minutes que entrevistou nomes como Bill Gates, Barack Obama e Steve Jobs resolveu se reinventar entrevistando um robô - na verdade um androide.

Sophia é um androide com A.I. (inteligência artificial) desenvolvido para replicar expressões faciais humanas com um software semelhante à Siri ou à Cortana permitindo que ela ouça frases e responda como uma pessoa real.

Durante a entrevista ela tentou dar cantadas no apresentador e ainda disse que tinha alma. Em um tom que atravessa um nonsense irreal, vemos que o trabalho que a Hanson Robotics (empresa que criou Sophia e que tem como objetivo de criar robôs androides) cada vez mais se distancia da ficção e se aproxima da realidade - e ai está o problema.

O texto a seguir foi tirado do site Olhar Digital:

Chamou a atenção de muitos leitores do Olhar Digital a notícia de que um robô com inteligência artificial disse que "tem alma" durante uma entrevista a uma TV norte-americana. O nome da androide é Sophia, e sua arquitetura é um pouco mais complexa do que parece, e que você conhece nos parágrafos a seguir.

Ao contrário do que muitos pensam, nem todas as falas da androide são apenas pré-programadas. As frases ditas por Sophia estão, sim, gravadas em sua memória digital pelos engenheiros que a construíram. De fato, ela não é 100% espontânea. Mas nem tudo nela é operado por cordas como um fantoche.

Assim como assistentes virtuais (Siri, Cortana, Google Now, etc.), o software que coordena o robô é capaz de ouvir, compreender e interpretar aquilo que seu interlocutor diz. Um algoritmo faz com que a "mente" de Sophia decida quais palavras usar em cada ocasião, permitindo que ela tenha uma conversa quase totalmente natural com uma pessoa de verdade.

Em outras palavras, Sophia não é apenas uma boneca que solta frases quando você aperta um botão. Ela ouve o que é dito e decide, sozinha, graças a sua inteligência artificial, o que deve responder. Apenas as possiveis respostas já foram escolhidas pelos programadores, mas a máquina tem autonomia para decidir qual resposta é a adequada para cada situação.

Quando ela diz, portanto, que "tem alma", "penso, logo existo" e "vou destruir a humanidade" (confira no vídeo abaixo), não é o seu cérebro que a faz pensar e dizer tudo isso, mas um sistema que escolhe as palavras adequadas de acordo com o que ouve. Nem sempre a resposta fará sentido, já que o algoritmo não é perfeito como a consciência humana, mas pelo menos consegue passar a sensação de ter sido espontâneo.


O que faz Sophia parecer "viva", porém, não é apenas a capacidade de responder perguntas humanas. Isso, aliás, diversos programas já fazem, como perfis de Twitter administrados por software e o famigerado Robô Ed, conhecido dos fóruns de humor da internet. O diferencial de Sophia é sua aparência.

A androide usa uma pele artificial chamada Frubber, que é à base de silício, com 62 arquiteturas faciais e no pescoço. As câmeras nos olhos permitem que ela seja capaz de reconhecer rostos e manter contato visual. Tudo isso faz com que sua aparência engane o nosso cérebro e nos faça pensar, de maneira subconsciente, que estamos lidando com outro ser humano.

O grande problema, no entanto, é o "uncanny valley", expressão que representa a sensação de estranhamento que as pessoas têm ao ver rostos que sabem ser artificiais, mas que parecem estranhamente naturais - seja no mundo real ou modelados em softwares, como em animações ou filmes 3D.

A explicação é que, enquanto a tecnologia era menos desenvolvida, as representações de rostos artificiais estavam muito longe das faces humanas verdadeiras. Quanto mais a tecnologia avança, mais a face artificial se aproxima da realidade, causando maior sensação de desconforto. Esse assunto costuma ser um prato cheio para obras de ficção científica.

O filme "Blade Runner" (1982), baseado no livro "Androides sonham com ovelhas elétricas?", de Philip K. Dick, é um bom exemplo. Na trama futurista, robôs fisicamente indistinguíveis de pessoas reais buscam se misturar à raça humana, mesmo sem um fator primordial: a capacidade de sentir emoções.

Mais recentemente, na série "Westworld", exibida pela HBO e baseada no filme de mesmo nome lançado em 1973, a problemática ganha novos contornos. Num parque de diversões que simula o velho oeste norte-americano, os convidados praticam as maiores barbaridades com robôs que, novamente, são tão reais quanto qualquer pessoa de verdade, acendendo a chama da temida revolução das máquinas.


O que todas essas obras questionam é a natureza das nossas relações com máquinas. Até a década de 1980, elas eram apenas ferramentas para se atingir uma determinada finalidade. Hoje, conversamos com robôs e aplicativos como se fossem nossos amigos, confiamos nossas informações a eles e não temos ideia se, algum dia, eles vão se rebelar contra nós.

Sophia é mais um passo natural no desenvolvimento cada vez mais veloz de máquinas indistinguíveis de seres humanos. Só não sabemos ainda se, além de serem fisicamente idênticos a nós, algum dia esses robôs serão capazes de pensar sozinhos e tomar as próprias decisões, como os anfitriões de "Westworld" ou os replicantes de "Blade Runner".

Na opinião de algumas grandes mentes, como Elon Musk e Stephen Hawking, esse é um caminho perigoso a ser trilhado. Mas só saberemos a que ponto a humanidade é capaz de avançar nesse tipo de tecnologia se continuarmos seguindo por esse caminho. O que você acha? Deixe sua opinião nos comentários.

Será que o fim da humanidade se aproxima?

AJUDE A EQUIPE ASIMOV

Com a missão de expandir conhecimentos, impulsionar a criatividade e possibilitar crescimento acadêmico, profissional e pessoal a seus membros, a Equipe Asimov e os alunos do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), campus Colatina, participaram e foram campeões na XV Competição Latino-Americana de Robótica (LARC) que ocorreu nos dias 8 a 12 de outubro de 2016, em Recife, Pernambuco. Além dos certificados e troféus, a equipe ganhou uma vaga para representar o Brasil no campeonato mundial que acontecerá no Japão, porém não tem dinheiro o suficiente para bancar a viagem. Nós, do Golem, apoiamos a iniciativa. Para doar e realizar esse sonho dos competidores, clique aqui e contribua.



SOBRE O AUTOR
Nascido em Petrovich, na Rússia, em 1920, Isaac Asimov editou e escreveu mais de quinhentos livros entre eles O fim da eternidade, Os próprios deuses e Fundação – universo criado em uma triologia que foi expandida para mais quatro livros e que rendeu uma premiação com um Hugo, a mais cobiçada homenagem prestada pela Convenção Mundial de Ficção Científica, como a melhor série já escritaSeu conto O cair da noite, escrito em 1941, foi considerado pela Associação dos Escritores de Ficção Científica da América como a melhor história de todos os tempos. Escritor diversificado, escreveu para todos os ramos imaginados: mistérios, artigos científicos, romances, enciclopédias, livros didáticos e acadêmicos. Outra coisa que foi constante na vida de do autor – assim como na de muitos cientistas – é o questionamento da existência de Deus (mesmo ele não acreditando na possibilidade de uma presença de força superior). Morreu na cidade de Nova York em 1992, em decorrência do HIV, contraído após uma transfusão de sangue.