quinta-feira, 17 de setembro de 2020

O primeiro livro de ficção científica escrito no Brasil, lançado originalmente em 1875


Em 1875, Augusto Emílio Zaluar escreveu e publicou no Brasil o romance O Doutor Benignus, influenciado pelas obras iniciais de Júlio Verne, Cinco semanas num balão (1863) e Viagem ao redor da lua (1870), e principalmente por Camille Flammarion, astrônomo francês, que publicou, entre outros, o livro A pluralidade dos mundos habitados (1862), referido explicitamente nas páginas do romance.

Publicada no jornal O Globo, em fascículos, a obra é considerada o primeiro romance brasileiro no qual se exprimem claramente as várias convenções do gênero ficção científica, à época em formação: o cientista como protagonista, a máquina de ver o futuro e o primitivo mundo perdido. É, de fato, a primeira obra de literatura fantástica escrita no Brasil.

O livro defende o conhecimento científico como forma de alcançar o progresso, construindo assim a identidade de um país. Escrito com uma visão nacionalista, Benignus, médico e cientista amador, pretende provar que o homem americano teria surgido no Brasil e daqui migrado para outros continentes. Fora da ficção, a ideia era debatida no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), e fundamentada pelo paleontólogo dinamarquês Peter Wilhelm Lund (1801-1880), que defendia essa proposta com base nos esqueletos humanos encontrados em cavernas da região de Lagoa Santa, no estado de Minas Gerais.

Benignus, com uma comitiva de trinta pessoas, parte para uma expedição pelo interior do Brasil e, enquanto percorrem as matas de Minas Gerais e de Goiás à procura de indícios de extraterrestres, o personagem principal identifica florestas no planeta Marte através de seu telescópio, concluindo que o planeta seria habitado. Pouco depois, reconhece manchas na superfície solar, acreditando que o seu núcleo também poderia ser habitado. O livro traz para o leitor o sonho de Benignus, a visita de um ser espiritual proveniente do Sol que o parabeniza por sua “impaciência de saber”, animando-o a infiltrar o bem na alma de seus semelhantes.


Augusto Emilio Zaluar foi um escritor, poeta e jornalista, nascido em Lisboa, emigrou para o Brasil, mudando-se para o Rio de Janeiro em 1850, naturalizou-se cidadão brasileiro seis anos depois. No Brasil, entre outras atividades, traduziu obras literárias do francês para jornais cariocas, publicou o livro de poesias Dores e flores, foi redator de O Álbum Semanal (1851-1853) e escreveu um relato de viagens, Peregrinação pela província de São Paulo (1860-1861), antes de mergulhar em sua obra de ficção científica. Fundou o jornal Espelho, além de participar como diretor de O Vulgarisador (1877-1880), uma das primeiras publicações nacionais voltadas à divulgação de ciências. O autor também trabalhou como jornalista no jornal O Globo, escrevendo várias matérias sobre a Exposição Nacional de 1875. No mesmo jornal, iniciou a publicação de O Doutor Benignus, antes de publicá-lo efetivamente como livro. Zaluar trouxe para o Brasil, mais do que um novo gênero literário, mas as ideias que povoavam o âmbito científico europeu da época.

Link para adquirir a obra.