Arquiteto de formação pela FAU UFRJ com uma "graduação sanduíche" na University of Lincoln (Inglaterra), e aficionado por quadrinhos e ficção científica, Rapha Pinheiro começou a escrever para trazer vida ao universo ficcional que ele havia criado quando criança.
Em 2017 concluiu o curso internacional em quadrinhos da École Européenne Sérieure de l'Image em Angoulême (França) onde foi morar e escreveu Salto. Voltou para o Brasil e hoje é professor da Escola de Comunicação e Design Digital (ECDD) do Instituto Infnet, professor de desenho e quadrinhos em um curso livre no Colégio Santo Amaro e mestrando em Linguagens e Tecnologias da Comunicação na ECO UFRJ.
Em 2014 começou a publicar seu primeiro quadrinho (Os Tomos de Tessa) e não parou mais desde então. Publicando de forma independente no início, tanto na Europa quanto no Brasil, hoje ele publica seus quadrinhos pela Editora Avec. Dois desses quadrinhos foram projetos bem sucedidos como financiamento coletivo no Catarse.
O que podemos falar sobre a indústria nacional de quadrinhos? Ela avançou ou regrediu?
Ela definitivamente está vivendo um momento histórico. Apesar da crise geral, existe um crescimento de quantidade e de qualidade de produção como nunca antes visto no Brasil. O único problema é que o público leitor não está crescendo em um ritmo proporcional. Se não arrumarmos um jeito de furar a bolha e atingir novos públicos, a cena de quadrinhos vai implodir em breve.
Qual é o papel da Internet para esse cenário?
Já foi mais importante, numa época onde as redes sociais realmente entregavam o conteúdo. Artistas que construíram sua base de fãs em uma única plataforma estão sofrendo muito com as mudanças de algorítimo e a real face das redes que não perceberam (ou não se importam) que muitos artistas dependiam delas. Hoje a internet é quase como um validador: Se alguém te conhece ao vivo e não te acha online, você perde credibilidade. O inverso também é verdadeiro, por isso é importante existir no mundo físico também. Ir a eventos, frequentar feiras... Tudo isso sem esquecer de postar regularmente. Ser artista não é fácil...
Silas e Salto, seus principais quadrinhos no Catarse, são parte de um universo compartilhado? Você pretende voltar as cavernas, fazendo um terceiro volume? Ambos ainda estão disponíveis para a venda?
Pretendo voltar sim, mas não num futuro próximo. Não quero ser conhecido como "o cara do steampunk" então meus próximos trabalhos não terão nada disso. Inclusive, meu próximo livro em parceria com o Denis Mello vai ser uma história autobiográfica sobre nossa aventura etílica no último dia morando na França. A previsão é sair no meio do ano que vem. Salto ainda está rodando por aí, já na sua segunda edição. Silas está na gráfica e deve estar disponível pra compra em Dezembro.
Qual foi a principal inspiração para Os Tomos de Tessa?
Eu diria que o livro "Eram os Deuses Astronautas?". Eu era mais impressionável quando era mais novo. Hoje em dia eu já li o suficiente pra não cair mais no que o livro fala, mas ainda assim é uma fonte incrível de ideias para histórias de ficção. Não dá pra negar que tem um pouco de Star Wars e Senhor dos Anéis ali também...
Como você vê atualmente o mercado literário, sobretudo para os novos autores?
Sinceramente, estamos um pouco saturados. Como eu disse, temos muitos autores bons produzindo coisa boa que ninguém compra. Enquanto não existir um mercado, um público consumidor, vamos continuar comprando de nós mesmos e fortalecendo uma cena cíclica e redundante.
Em 2016 foi selecionado para estudar na Ecole Europeenne Superieure de l'Image em Angoulême na França. O que difere a educação francesa da brasileira?
A forma como os europeus em geral e os franceses em específico lidam com quadrinhos é completamente diferente da nossa. Lá eles tratam como arte, ser quadrinista é um trabalho. Eles tem contato com livros e quadrinhos desde cedo, incentivados a ler e a buscar conhecimento (como já dizia et bilu). Existe quadrinhos para todos os públicos e todo mundo lê. Claro que temos os fanáticos como temos aqui, mas não são eles que movimentam o mercado. O que roda as engrenagens é o fato de que todo mundo lê, todo mundo compra ocasionalmente e ninguém considera uma mídia menor.
Quais autores te influenciaram e se tem alguma dica para autores iniciantes.
A lista de influências é infindável. Na verdade, diria que tudo o que eu já vi me influenciou de alguma forma. Como eu sei que isso é uma resposta vaga e que na verdade não responde ninguém, vou citar alguns que guardo comigo com mais carinho: Moebius, Will Eisner, Alex Alice, David Mazzucchelli, Mike, Mignola, Richard McGuire e Hugo Pratt. Esse nomes já são suficientes pra semanas de referencias se você procurar cada um deles com carinho na internet.
Quanto às dicas, a primeira (mesmo parecendo pedante) seria assistir ao meu canal. Eu criei o canal justamente pra compartilhar o conhecimento sobre produção de quadrinhos e era uma coisa que não existia com força no youtube brasileiro. Fico feliz de ter construído um canal com certa respeitabilidade, assistido por colegas de profissão. Além disso, eu diria pra sair sempre da zona de conforto. Criar implica em se expor a estímulos novos. Busque novas experiências, novas leituras, novos lugares, novas amizades... Enfim, busque sempre ser alguém diferente de quem você era um ano atrás. Preferencialmente, alguém mais sábio.
Acho que é isso! Me sigam nas redes sociais todas e nos vemos pela internet. Aquele abraço!