Jeanette Winterson |
Tinha acabado de me levantar, quando a Louise transpôs a porta de cabelo apanhado ao alto com um travessão de tartaruga.
Sentia-lhe o cheiro do vapor do banho das fortes essências. Essências silvestres do sabonete.
Estendeu os braços, ofereceu-me ternamente a face.
Levei-lhe as duas mãos à boca e beijei-as lentamente. Memorizando assim, a forma dos nós de seus dedos.
Eu não só desejava a carne de Louise como também os seus ossos, o seu sangue, os seus tecidos, os tendões que a mantém unida.
Eu tê-la-ia segurado junto a mim, apesar de o tempo lhe desgastar os tons e a textura da pele.
Podia tê-la segurado mil anos. Até o próprio esqueleto ficar reduzido a pó.
Que tens tu que me fazes sentir assim? Quem és tu que o tempo não tem sentido para ti?
No calor das suas mãos pensei: É a fogueira que torça o Sol. Esse lugar há de aquecer e me alimentar, de cuidar de mim, agarrar-me.
Esse pulsar contra outros ritmos. O mundo subirá e vazará com a maré do dia, mas aqui está a sua mão com o meu futuro na sua palma.
Ela disse: Vem pra cima.