sábado, 23 de setembro de 2017

"Uma fantasia que você alcança através dos seus sonhos" - Série Dragões de Éter (Raphael Draccon) por Vítor Cantarin


E um lobo lhe devorou a avó. 
Certo, essa não é a melhor notícia que alguém gostaria de receber, mas foi exatamente o que aconteceu com aquela menina. E o pior: ela a tudo assistiu, presenciando de camarote a sangrenta carnificina. Viu a carcaça da avó ser devorada, viu o assassino avançar sobre ela própria para dilacerá-la da mesma forma faminta como fizera com a pobre senhora, e viu também seu salvador aparecer com uma espingarda engatilhada para dar cabo a vida do carnívoro – Raphael Draccon

Foram essas algumas das primeiras palavras que eu li de Raphael Draccon.

As pessoas dizem para não julgar um livro pela capa, mas não vou mentir para vocês, foi exatamente isso que eu fiz. Era 2009 ou 2010 – memória nunca foi meu forte – quando eu entrei na livraria e sai com os dois primeiros volumes de Dragões de Éter, quase 1000 páginas de leitura... quando se compra um livro simplesmente pela arte de capa, você tem grande chance de estar cometendo um erro.

Naquele dia eu não podia estar mais certo.

A trilogia de Dragões de Éter se passa, em sua maior parte, na cidade de Andreanne, uma das cidades mais importantes do continente de Ocaso e capital do reino de Arzallum. Trata-se de um lugar etéreo, com bruxas, fadas e várias outras raças, onde o autor desenvolve a história de vários personagens ao passo que mostra uma visão única e espetacular de vários contos de fada populares.

Raphael Draccon desenvolve a trama com uma narrativa espetacular, alternando histórias de diferentes personagens entre capítulos e os desenvolvendo com diálogos rápidos e inteligentes, muitas vezes beirando o poético. A princípio, se tem a impressão de se tratar de uma história desconexa, sem sentido, pois em um capítulo estamos falando de Ariane Narin  uma garota que, ao ir visitar a avó, presenciou uma cena que a marcaria por toda a vida - enquanto, em outro, de Axel Terra Branford  o príncipe amado pela plebe e segundo filho de Primo Branford, o maior rei que Arzallum já teve -, além de muitos outros personagens, cada um com seus próprios conflitos e ambições. Aos poucos, as peças do quebra-cabeça vão se encaixando, e você percebe que cada história, mesmo que aparentemente isolada a princípio, é vital para o livro como um todo.



Em Caçadores de Bruxas, o primeiro livro da trilogia, somos inicialmente apresentados a vários personagens, muitos deles inspirados em contos de fada populares e, conforme aprendemos sobre suas histórias e as cicatrizes que eles carregam. Conhecemos mais sobre a história do reino de Arzallum, hoje em paz devido a uma violenta caçada às bruxas realizada pelo atual rei Primo Branford. Porém, depois de 20 anos diversos acontecimentos dão o sinal de que a tão duradoura paz está prestes a ser partida.

Pouco a pouco o narrador, que frequentemente interage com o leitor, deixando a narrativa mais envolvente, nos mostra que existe muito mais do que inicialmente se pensava na história de cada personagem. O que a família real esconde? Por que Ariane foi mandada sozinha visitar a vó no meio da floresta? O que os irmãos João e Maria Hanson, que foram mantidos prisioneiros de uma bruxa anos atrás, têm a ver com isso tudo? Conforme a cidade é atacada por piratas e organizações criminosas se confrontam, feridas são reabertas e mistérios revelados, ao passo que as tramas se cruzam e se completam, forçando o rei a tomar decisões que irão marcar para sempre a história de Arzallum.

Em Corações e Neve, segundo livro da franquia, voltamos a Arzallum conforme o reino se recupera dos acontecimentos do primeiro livro. Anísio Branford, filho mais velho de Primo e seu herdeiro, tem os ensinamentos que lhe foram dados durante toda a vida colocados à prova, enquanto uma nova era se inicia no reino. Ariane descobre mais sobre poderes que nem sabia que existiam, um ex-prisioneiro que acredita na divisão de bens é libertado e Axel enfrenta o maior torneio de pugilismo do mundo, descobrindo alguns segredos e gerando consequências inesperadas.

Por último, em Círculos de Chuva, a primeira guerra mundial do mundo de Nova Éter se aproxima, e pactos de magia, que certamente serão cobrados depois, são formados, tudo para salvar aqueles a quem se ama, fazendo os personagens decidirem entre seus desejos e o que é certo.

Ao todo, Dragões de Éter é uma obra de arte que tem que ser lida por qualquer um que ama fantasia e teve o prazer de crescer ouvindo contos de fada. É difícil não se apegar aos personagens que vemos amadurecer cada vez que são passam por provações. Então, se você gosta desse tipo de livro, permita que Raphael Draccon lhe conte mais sobre esse mundo mágico. Em um...

E dois...

E três.

VITOR CANTARIN é filho de uma preparadora de textos, e por isso cresceu em uma família que está sempre lendo e cercado de livros de todos os tipos e tamanhos. Sendo artes uma de suas maiores paixões (a outra são cães), já tentou desenhar, compor melodias e até remixar músicas, mas sua verdadeira paixão é a escrita. Entre suas inspirações estão todos os locais fantásticos que os livros, filmes e jogos têm o prazer de nos apresentar.