sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Sobre a cultura woke e o cancelamento da série do Conan na Amazon - por Marco Antonio Collares



Debatendo aqui com o Domenico Gay sobre cultura e movimento woke e cancelamentos, tal como aconteceu com a série do Conan na Amazon, parei para ouvir os argumentos do amigo e da fandom de o Senhor dos Anéis quanto as críticas que foram feitas a série.

Acho que se por um lado, vivemos um momento de questionamentos ao normativo na cultura, com apelos a representatividade e afins, mas por outro, vivemos um jacobinismo intolerante que taxa as pessoas sem ouvir seus motivos. Acho que vale para mim essa crítica.

A conversa sempre é fundamental, até para saber de onde partem as opiniões, visto que as vezes, cometemos generalizações sobre os outros. Eu fiz e faço as vezes, e não estou certo nesse ponto não.



Enfim. Sobre o cancelamento da série Conan, por considerarem o personagem a expressão da masculinidade tóxica, fiz o seguinte texto para o Fórum Conan.

“Ficamos sabendo da notícia do cancelamento da série Conan, na Amazon, porque uma produtora julgou que o personagem contém elementos daquilo que ela chama de “masculinidade tóxica”.

Como de costume, a falta de conhecimento ou discernimento sobre esse personagem e seus ciclos literários impera, talvez por conta dos estereótipos criados na cultura pop.

Robert Howard trata sim de elementos de uma nova masculinidade em sua obra, modificando as noções da dita masculinidade vitoriana do século XIX, baseada na razão e na contenção dos impulsos para uma nova noção que surgia nos EUA, na época, baseada na força física, vigor, temeridade, primitivismo, baseando seus personagens não apenas em bárbaros da literatura ou da história como também nos elementos do mito da fronteira dos EUA e dos texanos de outrora.



Conan teria essa conotação e ele tem uma conduta para com as mulheres que questiona até mesmo a forma como os homens civilizados as tratam. Ele questiona a escravização das mulheres por seus pais e maridos, que as vendem para obter ganhos políticos, ele é avesso ao estupro, ele tem um código de honra e até fidelidade com aquelas por quem se relaciona.

O personagem possui uma riqueza que deve ser melhor observada, não sendo apenas o sujejto com espada matando monstros e feiticeiros, mas sim um bárbaro que vaga nas nações civilizadas e que sobrevive em meio à corrupção daqueles que as compõem.

Em Conan existe uma premissa de que a violência é reparadora dos males dos elementos corruptores da civilização e seu barbarismo possui códigos positivos de honra e temeridade, apesar dele não ser o arquétipo do bom selvagem rousseauniano.



Mulheres fortes e altivas são representadas em algumas narrativas e mesmo quando são representadas mulheres que precisam do cimerio em alguma situação, elas vem em Conan alguém que as trata com dignidade, algo que segundo elas mesmas, falta nos homens civilizados, que apenas as vem como objetos de lascívia e de uso para fins de benefícios pessoais.

Conan é honesto e vive o prazer do instante, seja na batalha ou nos seus relacionamentos e sua característica básica em relação as mulheres é a de ser verdadeiro, expressar para elas sua natureza e jamais agir com elas da mesma forma que os homens civilizados. Esses sim, imbuídos de toxidade.

Infelizmente, a produtora não conhece e por conta de estereótipos, desinformação e desconhecimento e a Amazon perdeu a chance de mostrar um personagem rico e questionador da hipocrisia civilizada, o que é um tema ainda atual em nossa sociedade.