terça-feira, 7 de agosto de 2018

1° versão do prefácio da Revista Diário Macabro



O TERROR DÁ ASAS AOS PÉS
Quando entrei em contato com a Nathalia e o Pedro, pedindo para prefaciar a revista, tenho que confessar que queria participar dessa terceira edição de qualquer maneira. Como contista não consegui, mas como prefaciador sim. Assisti essa revista nascer dentro dos grupos de literatura de terror que compartilhavam figuras, contos e curiosidades sobre Poe, Lovecraft e King e fico muito feliz pelo seu sucesso que a Diário Macabro tem conseguido e alcançado. O texto abaixo é a 1° versão do prefácio que escrevi para a revista. É um spin-off do que vem por ai, liberado para os fãs sentirem o gostinho do que está por vir. A campanha já está no ar no Catarse, e para aderir, só clicar nesse link.
Na virada do século XIX para o XX, houve uma explosão no mercado norte-americano de revistas populares contendo ficção de vários gêneros. Parecidos como uma espécie de periódico, as revistas pulp, ou “de polpa”, tinham esse nome por sua matéria-prima barata: a polpa de madeira. As histórias traziam enredos dos mais variados e simples. Em sua maioria eram leves e de leitura fácil, voltadas para todos os tipos de público, dos que gostavam de faroeste, mistério, aventura, romance, terror, fantasia e ficção científica. Vários autores de renome passaram por essas publicações como H.P. Lovecraft, Robert E. Howard e Clark Ashton Smith.

No Brasil, isso não foi diferente. Em 2009, em um artigo acadêmico, Athos Eichler Cardoso chamou de “revistas de emoção” as pulp magazines brasileiras, surgidas a partir de julho de 1934. Com “capa de cartolina ilustrada em cores de impacto variável”, O Romance Mensal foi nossa primeira revista, abrindo espaço para as outras (Detective, Contos Magazine, Mistério Magazine, etc). Nessas revistas dois nomes se destacam pelo estilo prolífico: R.F. Lucchetti e Ryoki Inoue.




Eram publicações populares, narrativas bizarras voltadas para o extraordinário e o fantástico, sob a forma das mesmas temáticas norte-americanas. Lembra Causo no prefácio da Trasgo: “Romance Mensal já começa com uma história de horror, seguida, no n° 2, de uma aventura de mundo perdido e outra com monstros nos Mares do Sul. Também publicou brasileiros, embora não necessariamente nesses gêneros”.

Esse é o ground da Diário Macabro. Além de trazer contos inéditos revelando novos escritores, traz traduções de contos que nunca ou quase nunca foram publicados no Brasil. Especializada em contos de horror e as mais variadas vertentes, o sobrenatural (Dionísio), o cósmico e a ciência (A Noite dos Seres Negros), o suspense (Família), o psicológico (O Cenotáfio) são alguns exemplos que tudo está muito bem representado nos n° 1 e 2 da revista.

Quanto a periodicidade, é compreensível. O mercado editorial brasileiro tem se retraído nesses momentos de crise, mas é nela que tem de surgir a inovação. Financiamentos coletivos, sistemas de apadrinhamento (padrim), promoções, combos podem sustentar a iniciativa tão recente que é impossível, todavia, avaliar o impacto da revista sobre a longa tradição dos pulps no Brasil.