sábado, 22 de abril de 2017

Especial Círculo das Ideias: Realidades Adaptadas de Philip K. Dick #4: "O relatório minoritário"

O primeiro pensamento de Anderton ao ver o rapaz foi: Estou ficando careca. Careca, gordo e velho. Mas não o disse em voz alta. Em vez disso, empurrou a cadeira para trás, levantou-se e foi até a lateral da mesa com determinação, a mão direita estendida com rigidez. Sorrindo com uma cordialidade forçada, cumprimentou o rapaz com um aperto de mão. - Philip K. Dick
Publicado em 1956, O relatório minoritário narra as aventuras do comandante policial Anderton, que lidera o departamento de Pré-Crimes: uma divisão capaz de prever os movimentos criminosos de qualquer agente antes que ele seja realizado com sucesso uma semana antes do ocorrido. O problema é, que o próximo assassino que ira executar alguém e abalar a estrutura, não só do departamento, mas de toda a sociedade é cometido por... Anderton.

Levado ao cinema com direção de Spielberg e estrelado por Tom Cruise em 2002 com o nome Minority Report – A Nova Lei, o autor marca todos os seus enredos em torno de uma estrutura bem interessante. É possível dividir os contos do Philip K. Dick em três partes: a apresentação do cenário, o problema a ser desenvolvido (normalmente é um problema onde moral e ética se cruzam) e um desfecho curto e rápido, sem se estender de modo cansativo.

O relatório minoritário não é diferente. O conto – que trabalha uma visão de mundo totalmente diferente do habitual na ficção cientifica moderna – mostra uma capacidade punitiva do Estado de prever a ação de um meliante, antes que ele mate ou cometa algum delito violento utilizando mutantes em tratamento degradante. É curioso notar como o futuro é mutável, e que cada escolha que fizermos pode levar a caminhos inimagináveis.

Na 3° temporada da série The Flash, o herói para salvar a sua amada Iris decide ir ao futuro para tentar descobrir qual é a verdadeira identidade do seu inimigo Savitar – identificado apenas como o deus hindu da velocidade. Futuro esse, que foi mudado graças a suas irresponsabilidades, fazendo os fãs se perguntarem se Barry Allen não é o vilão. A série volta no dia 25 desse mês e vai se passar no ano de 2024.

Esperemos que o Velocista Escarlate tenha mais sorte do que o nosso comandante Anderton.

SOBRE O AUTOR
Considerado por Ursula K. Le Guin como Jorge Luis Borges norte-americano, Philip Kindred Dick nasceu na cidade de Chicago em 1928. De 1955, ano de seu primeiro livro, até 1982, Dick publicou 44 romances e 121 contos, uma média de um romance a cada sete meses e um conto a cada 81 dias, sem parar, por 27 anos. Entre eles Valis, Ubik, Os Três Estigmas de Palmer Eldritch e os premiados O Homem do Castelo Alto (que dedicou para sua mulher Anne, que o desprezava dizendo que era um miserável e empalideceu ao descobrir os termos da dedicatória: Para Anne, minha mulher, de quem sem o silêncio eu não teria escrito esse livro) e Fluam, Minhas Lágrimas, Disse o Policial. O ritmo visivelmente frenético foi mantido à base de muita anfetamina – apesar dos boatos que sempre circularam à sua volta, Dick passou mais ou menos batido pelo LSD, a droga da moda na sua época, tendo apenas uma bad trip em toda sua vida (um boato divertido é que a revelação religiosa - ele foi durante a maior parte de sua vida adulta um católico convertido - que lhe ocorreu mais tarde seria um flashback dessa única viagem). Com dificuldades em ficar sozinho, teve cinco casamentos, um período de alguns meses em que sua casa se transformou num ponto de uso e tráfico de drogas, uma temporada voluntária numa clínica de reabilitação e até um par de semanas no apartamento de um casal de desconhecidos no Canadá. Morreu em 1982, aos 53 anos, em Santa Ana decorrência de um acidente vascular cerebral. Outros livros de sua autoria ainda seriam publicados postumamente, como Realidades Adaptadas, e é provável que ainda existam alguns por publicar...