sábado, 19 de fevereiro de 2022

THE WEIRD OLD WEST


Foi a partir do século XIX que começou a corrida nos Estados Unidos que deram início a um período de grande expansão de seus territórios pela costa oeste, na tentativa de conseguir riquezas e trazer maior progresso ao país. Esse longo processo de migração de pessoas por todo aquele território marcou a história e o imaginário americano na época dos pioneiros e da conquista de terras aos índios, criando o termo "western", ou como é mais conhecido mundo afora: faroeste. Em sua essência, o western trata de trazer a "civilização" anglófona para um território inexplorado e indomado. A maioria dos filmes desse gênero nos mostra que a força, determinação e um forte código moral dos pioneiros que transformaram a fronteira em um paraíso para os colonos brancos norte-americanos (o poder de fogo superior certamente ajudou também). Já o weird é uma palavra sem tradução exata para o português, mas que se aproxima em nossa língua como "estranho" ou "bizarro".

Weird Western, então, é uma mistura que combina elementos literários do faroeste com outros elementos literários, geralmente terror, ficção científica e fantasia. O termo é uma releitura de fantasia sombria do Velho Oeste, onde homens foras da lei, pistoleiros e xerifes compartilham a fronteira com criaturas fantásticas. O misticismo indígena, as grandes caçadas a animais selvagens e recompensas por perigosos bandidos, o desbravamento de regiões quase inóspitas, os trens-pagadores percorrendo desertos e tiroteios se misturam, sendo parte fundamental das histórias que circulam hoje no mercado.

Exemplos literários não faltam. Contos simples como "The Mound" de H. P. Lovecraft escrito como ghostwriter entre dezembro de 1929 a janeiro de 1930 e publicado na revista pulp Weird Tales na edição de novembro de 1940 e "The Horror from the Mound" de Robert E. Howard publicado na edição de maio de 1932 da revista pulp Weird Tales. Se viajarmos ainda mais no tempo, achamos a dime novel "The Steam Man of the Prairies'' de Edward S. Ellis, publicada em 1868.


Narrativas western fizeram a cabeça de muitos americanos, com os filmes estando entre os mais populares do cinema hollywoodiano, chegando a representar 25% de toda a produção filmográfica de Hollywood entre as décadas de 1920 e 1960. A partir da década de 1950, houve uma queda significativa nos lançamentos desse gênero. Com a queda do western americano, surgiu o spaghetti western (chamado também de faroeste italiano) com a produção do faroeste sendo feita por europeu.

Com o avanço da globalização, os longas ficaram extremamente populares em todo o mundo entre as décadas de 1960 e 1970, crescendo como um gênero marginalizado, mas que agradava a massa espectadora. Nos quadrinhos (tanto europeus como norte-americanos que vieram para o Brasil) temos alguns exemplos tanto de western como weird western. As aventuras de Jonah Hex, Tex, Zagor e Mágico Vento formam uma gama bastante rica para quem quer se aprofundar no tema.



No Brasil, podemos vislumbrar algo na obra centenária "Tropas e Boiadas" de Hugo de Carvalho Ramos que retrata em contos a vida sertaneja e suas superstições (doentes, fantasmas e outras assombrações).

Através da Segunda Geração Modernista, com a literatura brasileira vivendo uma fase de maturação, com a concretização e afirmação dos novos valores modernos, temas nacionais, sociais e históricos foram os preferidos pelos escritores dessa fase, abordando diversos aspectos do sertanejo e problemas como a seca, a violência, a fome e a miséria do Nordeste (o que mais chegava perto da temática na época).

Recentemente, por meio da Editora Avec, Duda Falcão publicou o livro "O Estranho Oeste de Kane Blackmoon" e Denilson Ricci pela Editora Clock Tower publicou "Weird Western - Contos de Horror no Velho Oeste" de Robert E. Howard, o primeiro volume de uma série de dois livros sobre o tema através de financiamento coletivo. Em sua nova revista trimestral temática, a Skript Editora trouxe um volume ambientado no gênero Faroeste, contendo histórias no Velho Oeste dos EUA, no cangaço e pampas brasileiros: "Skriptzine: Faroeste".

No cinema, o mais próximo que tivemos disso e que foi reconhecido mundialmente é o filme "O Cangaceiro", dirigido por Lima Barreto, com trilha sonora de Gabriel Migliori, textos de Rachel de Queiroz e atuações de Alberto Ruschel, Mílton Ribeiro e Vanja Orico. O filme contribui decisivamente para a fixação da temática do cangaço no cinema brasileiro, levando os prêmios de melhor filme de aventura e de melhor trilha sonora no Festival de Cannes. A película tomou como modelo os faroestes ("westerns") hollywoodianos para introduzir o tema do cangaço no cinema nacional, chegando a ser apelidada pelos franceses de nordestern. Foi uma produção cara, com a trama exibindo cidades amedrontadas por bandidos e às voltas com fugas, perseguições e romances. Toda a construção levou à falência a produtora Cinematográfica Vera Cruz, apesar do estrondoso sucesso (nacional como internacional) e a generosa bilheteria só amortizou uma pequena parte de suas grandes dívidas.

Nessas aventuras, os personagens principais tem as características naturais de anti-heróis. São o que você pode obter se cruzar o protagonista clássico de uma aventura capa-espada com um atirador bêbado maldito em uma cidade pequena. Homens defeituosos, ambiciosos, em busca de satisfazer seus prazeres e mais interessados em sua liberdade pessoal do que em proteger, atirando pelas costas se o rival permitir, conseguindo uma vantagem mesmo que desonrosa. Para os fãs de suspense, sobrenatural, terror e faroeste, o gênero é um híbrido amistoso, além de ser uma boa aposta, valendo cada bala de prata, parabellum e montoneras.